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Potência agrícola - José Fonseca Filho

05/05/2022 00:00




­Potência agrícola

Por José Fonseca Filho ** 
Choveu muito ao longo da noite. Muito mais do que o normal, naquela região. Chegou a atrapalhar um pouco o repouso do guerreiro, "Seu" Vitalino. Há décadas ele acorda pouco depois das 5 da matina, esquenta o café feito na véspera - pode ser ruim mas ele gosta assim - calça a velha bota, o jeans mais do que surrado, uma camisa qualquer e parte para a rotina da fazenda. O chapéu só depois do sol raiar, brabo e quente.
Anda pelos 68 anos mas goza de boa saúde e disposição. Sempre disposto ao trabalho na terra que seu pai lhe deixou. Praticamente fez tudo, e a casa pode ser considerada boa para a região. Só não tiveram filhos. Ele e a mulher Raimunda eram ligados, com mais de 40 anos de casados. Enquanto ele era alegre e atrevido, a Mundinha era pacata demais, desabafava o marido.
Não tiveram filhos porque a Mundinha não era muito chegada aos prazeres da carne, da cama, da sacanagem, tudo que aborrecia o maridão bem comportado. Nos últimos anos, com o aumento da arroba do cacau, Vitalino ganhou uma pequena fortuna. A banana também deu-lhe uma boa renda extra.
Sua fazenda era só para agricultura. Tinha horror dos bichos, boi, vaca, bezerro, bode etc. Gostava das plantas, arroz, feijão, e já tinha uma área reservada para plantar trigo e soja nos próximos anos. Adepto da agricultura, não da pecuária e outros.
Vitalino, contudo, ao caminhar entre os pés de cacau, pegando alguns frutos, há pouco tempo, começou a achar chata aquela vidinha de só trabalhar, e ainda ter de aturar uma companheira meio sem vida.
Na fazenda eu já fiz de tudo e estou com saúde, mas não me distraía nunca, recordava ele. Ganhou até fama de rico, pois a fazenda de cacau rendia bastante. Chocolate e banana vão me despertar, dizia aos amigos nas rodas de cachaça.
Vitalino era louco pelo Rio, para onde o pai o levou as completar 17 aninhos. Teve medo de pegar o bondinho do Pão de Açucar, achando que "aquela merda vai cair". E visitou só o Cristo.
O fazendeiro chegou a pensar que se continuasse naquela vida xoxa, só trabalhando e praticamente sem mulher ativa, na prática iria acabar ficando broxa. Chegou a comentar com a Mundinha mas ela não sabia de que se tratava. Realmente, já estava bastante passada.
Vitalino, o nome já dizia, era cheio de vida e casado com uma mulher cheia de nada. Começou a lembrar que aos 14 anos começou a improvisar um esporte solitário que os homens praticam antes de conhecer as mulheres. Ainda mais numa fazenda perto do fim do mundo. Seu Vitinho, como era chamado pelos amigos, era um grande massageador do próprio membro.
E as idéias fermentando na mente de Vitalino. Vou é para o Rio fazer uma boa farra, antes que o pinto morra de inanição - desabafou. Assim como trabalhou tanto a terra, agora estava se dedicando ao prazer. Eu mereço e vou botar para quebrar, disse para si mesmo. O saldo bancário estava cheio de grana, e começou a programar a viagem. Chega de vida caipira, observou.
E foi mesmo. Passou uma semana em Copacabana, onde um amigo lhe ofereceu para se hospedar um apartamento de temporada. Que porra é essa?  indagou. Ficou sabendo e gostou da ideia. Amigos lhe falaram de outra novidade chamada "garotas ou mulheres de programa". São garotas geralmente lindas, corpos esculturais e muita disposição para o trabalho. No entanto são profissionais e cobram caro para fazer um programa. A dois, a três, o tal do menage... Aí Vitinho ficou preocupado mas topou.
Alugou por dois dias/noites a suíte presidencial de um belo hotel na Av. Atlântica. Vista para o mar. Dinheiro nunca foi problema para ele, mas agora seria um caso excepcional. Mesmo assim, havia grana para gastar. E o início de uma nova vida para aproveitar.
Com uma semana de Rio "Seu" Vitinho já estava em ponto de bala. Mas com 68 anos, e há tanto tempo sem usufruto da peça, seria bom "dar uma geral". Indicaram-lhe um urologista e um psicanalista. O psicanalista percebeu que havia algum parafuso torto na mente do "Seu" Vitalino. Mas bobagem, nada de risco, participar de uma possível orgia até lhe faria bem à saúde e ao espírito.
Tudo pronto para a grande noite. Vitalino, psicologicamente muito bem preparado. Com o urologista a consulta foi igualmente produtiva. O médico deu-lhe uma geral, mas sua saúde, de fato, estava boa.
O médico disse-lhe então que iria dar-lhe três comprimidos de Viagra, a chamada azulzinha. Para tomar de vez, ou uma para cada garota do grupo. Teria um efeito extraordinário sobre a libido e mais de uma penetração estaria garantida.
O espasmo de prazeres seria fantástico, como ele nunca havia sentido. Lembrou que havia contratado 3 garotas de programa, sendo uma delas meio coroa. Com certeza ele teria uma belíssima e prazeirosa noite, capaz de fazê-lo esquecer tanto tempo e gastar muito sonho.
Lá pelas 20:00 horas, o urologista ia fechar o consultório , mas resolveu telefonar para o celular de seu paciente, que saíra de lá muito animado e feliz da vida.
O médico, Dr. Armando, ligou e ele atendeu em poucos segundos.
- Boa noite, seu Vitalino. Estou fechando o consultório, resolvi ligar para você e saber como está a festa, E então, como é que está a surubada por aí??
- Maravilha Dr. Armando, estou me divertindo bastante, uma verdadeira zorra. E olha cara, seu remédio é fantástico, já gozei 3 vezes, e ainda quero meter mais.
- Maravilha, maravilha, você vai adorar a farra. Só você para gozar 3 vezes seguidas. E as garotas, como é que foi, são gostosas e trepadeiras?
- Ah, Doutor, as garotas ainda não chegaram...
** José Fonseca Filho é jornalista e pré-poeta
Pintura - Caipira picando fumo - José Ferraz Almeida Junior 



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