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Vingança de Portugal - (Crónica) - José Fonseca

10/01/2023 00:00





Vingança de Portugal
José Fonseca Filho **
 
Nos últimos anos, milhares de brasileiros abandonaram sua terra natal e se mudaram para Portugal. Para viverem lá, a partir de então. A maioria com a perspectiva de que, em alguns anos, cada um deles estaria com a vida melhor do que no Brasil. Isto é, ganhando mais dinheiro, se divertindo mais, abrindo caminho e dando exemplo para que outros brasileiros tomassem a mesma iniciativa.
Todos partiram imaginando estarem chegando ao quase paraíso.E para isso não precisariam nem falar inglês. Os brasileiros que se mandaram para lá consideravam que seria fácil alcançar seus objetivos. Até porque se acham superiores aos portugueses. Mesmo tendo sido eles nossos descobridores, nossos mentores por várias décadas.
Brasileiros que se deram bem em Portugal e ainda vivem por lá, não foram só pessoas que precisavam trabalhar. Mas também aposentados privilegiados do funcionalismo público brasileiro, geralmente muito bem aquinhoados. Aposentadorias milionárias que, se fossem mais esclarecidos os mutantes, poderiam se abrigar em Paris ou Nova York, e não em Lisboa. Mas, no caso, faltavam-lhes mais ousadia.
Em Portugal tudo lhes parecia mais fácil, mais acessível. Hoje Portugal e portugueses estão convencidos de que se enganaram ao abrir as portas e janelas aos brasileiros. As vezes às custas de seus limitados empregos e de suas caríssimas moradias. Imagine-se que os brasileiros chegaram a se apoderar dos técnicos dos times de futebol lusitanos. Quase todos foram levados para os times brasileiros e hoje as equipes de futebol do Sporting e do Benfica
estão sendo dirigidas por técnicos de basquetebol.
Parece estar chegando a hora da reviravolta. Zangados, os portugueses demonstram algum preconceito e estão começando a encetar viagens com destino ao Brasil. Ir para ficar e se aproveitar, "como eles estão fazendo conosco há anos", é o que destacam os lisboetas. Eles vieram aqui para se aproveitarem de tudo que é nosso, dizem. Agora nós vamos para lá fazer-lhes algo semelhante, imaginam os lusitanos. Vamos chegar também com disposição de lá vivermos melhor do que aqui, desabafam os irmãos de além mar.
Os portugueses já estão se organizando para se instalarem no Brasil com empresas e novas técnicas de comércio. Eles "os brasileiros" foram na improvisação, achando que seria fácil ganhar dinheiro e morar bem. Hoje, a maioria ganha mal, mora pior e já pensa em voltar para a terra natal.
Duas famosas confeitarias de Lisboa, especializadas em pastéis de Belém e outras iguarias já estão montando filiais em São Paulo e no Rio. Três vinícolas do Porto cogitam instalar filiais no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, para a produção de vinho do Porto, inexistente entre nós. Os portugueses pretendem ainda ocupar áreas no Pantanal para a criação de tilápias. A serem  comercializadas como se fossem sardinhas gigantes.
O projeto mais ambicioso dos portugueses que pretendem retomar parte do Brasil, tal como os brasileiros estão fazendo com Portugal, pode proporcionar-lhes bons rendimentos. Trata-se de ocupar parte das baías de Todos os Santos e da Guanabara e transformá-las em áreas de criação de bacalhau. Da melhor categoria.
No caso, não sofrerão nenhuma concorrência dos brasileiros, que só conhecem o bacalhau que vem enrolado na embalagem. E na verdade são da Noruega, e não de Portugal. Brasileiro só come bacalhau na Semana Santa. As sobras do consumo português enviadas pelos cargueiros da TAP e entregues no gigante mercado de São Paulo.
Há ainda a ideia do projeto de produção e venda de sardinhas em larga escala no Brasil, criadas no litoral cearense e
comercializadas em latas tamanho família. Assim, quando forem a Portugal os brasileiros não mais vão esgotar o estoque local de sardinhas. Já estarão acostumados com o novo consumo local.
Os vingadores portugueses trarão também para o Brasil o know how da produção do melhor bolinho de bacalhau do mundo, a ser produzido entre nós. Com isso pretendem concorrer com nossos famosos petiscos como o pão de queijo, a coxinha de frango e a casquinha de siri.
Os portugueses, assim, estão se preparando para uma chegadavitoriosa ao Brasil. Os brasileiros só levaram para lá o açaí, frutinha pela qual os lusitanos se apaixonaram. E pretendem, em breve, dela fazer um vinho tinto especial.
Não haverá atritos entre portugueses e brasileiros, em nenhuma dessas disputas. Os do lado de cá do Atlântico começaram com a ideia de transferir lucros e serem bons vivants em Portugal. Os irmãos lusitanos querem seguir-lhes os exemplos: vir para o Brasil, passar bem e tentar ficar rico. Aproveitando o que houver de bom e de belo entre nós, além das mulatas.
A previsão, enquanto as jornadas de ocupação mútua de cada paísse desenvolvem, é que em mais três anos poderá haver cerca de um milhão de brasileiros vivendo em Portugal. Haverá espaço para todos?
** José Fonseca Filho é jornalista 
* Pintura Aldeia Cabocla



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