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Volta à anormalidade - (Crônica) - José Fonseca

02/01/2024 00:00




­Volta à anormalidade
José Fonseca Filho **
Não exatamente uma vida nova com um novo ano. Só muda o ano, e na verdade quase nada se altera, salvo a sequência numeral dos próximos doze meses. Entramos então na era do ano 24 da década de 20.
Todos estão descansados e animados pela passagem da data mais fantástica e lindamente comemorada da vida, seguindo-se às comemorações do nascimento de Cristo. O mundo ficou mais bonito com o advento e a sofisticação dos fogos de artifício e drones, encantando os habitantes da terra e contribuindo para alegrar os espíritos. Por 24 horas estabelece-se uma sensação geral de alegria, otimismo e perspectivas de melhoria da vida.
Neste curto mas extraordinário período todos descansaram, e por um dia tiveram a sensação de que estavam num paraíso. Problemas da maioria dos terráqueos pareciam resolvidos, e o alívio é sempre benvindo. Nesse curto período, repetido anualmente com vigor maior, só havia beleza e alegria na terra. Copacabana se consagra como o mais belo espetáculo pirotécnico do mundo. Alvíssaras pelo ano novo.
A realidade por horas esquecida volta depois com o mesma força e sofrimento humano. Fogo sob panelas estragadas que cozinham pedaços de ossos com miúdos de carne a título de alimento para nossos irmãos, que já não possuem escolas, moradias, comida. Todos cientes de que para eles nada melhorou. Nem deve ser superada tão cedo a miséria brasileira nem o sofrimento de sua majoritária população carente.
É a fantástica comemoração da passagem de ano, fenômeno que promove rápido e passageiro descanso à população mundial. Com a tentativa de revigoração da decisão de luta pela sobrevivência da humanidade. Daí o repetitivo Feliz Ano Novo e votos de prosperidade. As perspectivas não são animadoras, no entanto.
Falta comida. Além da intransigência política que gera conflitos. E temos duas guerras violentas, na atualidade. Mas a gigantesca festa tem sua utilidade. Ajuda a recuperar parte das forças desperdiçadas na luta pela melhoria do padrão de vida, sem muitas vitórias. A conscientização global pela necessidade de recuperação da pobreza universal avança mas as dificuldades a combater se ampliam. O dia de festas com fogos e brilhos no céu e parafernália promocional suscitam alegria na população mundial. Tão passageiras quanto os festejos.
O retorno à anormalidade com suas dificuldades diárias éimediato. Resta-nos lutar para manter a esperança de melhoras e persistir para que elas aconteçam. Os festejos e expressões de alegria e felicidade da população mundial não podem se restringir à magia do último dia de cada ano.
Há populações quase inteiramente sofredoras e miseráveis. Exemplos na África e no Haiti. Lá onde a simples sobrevivência é extremamente difícil, a vida pode se assemelhar a um castigo.
Não precisamos ir longe. Em nosso valente Nordeste brasileiros vivem sem alimentos nem água para beber. Por vezes o gado morre e resseca na aridez. Alguns resistem, porém a luta cansa, exaure, desanima. Lá não existem festas de ano novo, chocolate, fogos de artifício. Restam-lhes apenas brasas rasteiras das tentativas de recozinhar o parco feijão da véspera.
A humanidade não pode fracassar na tarefa de ser feliz e fraterna, e aguardar milagres que venham a superar a situação adversa. Há que se esforçar na conquista dos objetivos. Não basta o Feliz Natal e o Feliz Ano Novo. Nem fogos e presentes. É preciso batalhar e garantir a todos os humanos condições de lutar pela sua sobrevivência. E não se deixar levar por ilusões festivas.
** José Fonseca Filho é jornalista
Terra - imagem Nasa


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