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Boa Terra, boa gente - (Crônica) - José Fonseca

30/01/2024 00:00




­Boa Terra, boa gente
José Fonseca Filho **
A Bahia, o Estado da Bahia, com a vogal H em sua designação histórica e oficial - caso contrário, no caso de baía sem o H, não passaria de um mero acidente geográfico existente nos oceanos. Já com o H resplandece o fulgor da terra baiana, adorada pelos baianos como pelos brasileiros em geral. Curioso é que a designação Bahia referente ao Estado é com H, mas seus filhos que lá nasceram não possuem o H em sua designação. São todos eles baianos.
A Bahia é um famoso Estado brasileiro produtor de inúmeros e extraordinários artistas, músicos, escritores, pintores, poetas a granel, intelectuais, e até uma querida Santa Irmã Dulce. Além de um Senhor do Bonfim para tomar conta de todo esse tesouro, a  Bahia ainda é chamada e classificada por uma denominação popular e absolutamente correta.
Trata-se de Boa Terra. A Bahia é a Boa Terra. Ou, ainda, chamada de Terra da Felicidade. Neste caso com um toque de preciosismo pela canção que notabilizou tal definição. E se a Boa  Terra é realmente boa, como todos acham, obviamente que seu povo, sua gente, seus homens, mulheres e crianças, são majoritariamente Gente Boa, simpática, fraternal, alegre. Há quem discorde da todas essas colocações benévolas e expressa seu
sentimento crítico com uma curiosa ressalva: A Bahia é Boa Terra. Ela lá e eu aqui.?
Outra curiosidade, ainda no campo das denominações refere-se ao Esporte Cube Bahia, um dos times de futebol mais populares do Brasil, comparativamente aos maiores times do Rio e São Paulo. Na Bahia o estádio enche quando o Bahia joga, mas nenhum torcedor o chama de Bahia. Na verdade, e em alta voz, chamam de "Baêa". Pra frente, "Baêa".
O povo baiano é extremamente bem humorado e cordial. Se aborrecido ou violento, foi por descuido. Foi sem querer, irmão. Nada de irritações. Enfim, a vida é bela, nós é que estragamos ela. Há muitas estórias que comprovam essas características.
Um paulista - exemplo aleatório - entrou num bar simpático na Bahia e, depois de queimar a boca ao provar um acarajé com pimenta, pediu na barraca ao lado um suco de laranja, para rebater. Mas sem açúcar, porque era portador de diabetes. Ao receber o copo, com razão, o paulista deu um tapa na mesa e gritou que havia pedido sem açucar. Mas o copo veio com açúcar! Fez um escarcéu, reclamou zangado, mas o baiano que o atendeu não deu a menor importância ao xilique do freguês.
Chegou mais perto e disse ao ouvido do paulista:
- O açúcar está depositado no fundo do copo. Basta o Sr. não mexer a colher e terá seu suco sem açúcar. Assim fazemos para agradar a todos.
Com tantos escritores, poetas e músicos ( tudo também no feminino ) certamente muitos fatos e acontecimentos interessantes e alegres teriam de acontecer na Boa Terra. Um desses homens extraordinários foi Octavio Mangabeira, governador da Bahia, sempre tido como homem de alta
qualificação moral e intelectual. E também, como bom baiano, dotado de senso de humor. Consta que, diante de tantas coisas e fatos curiosos acontecidos na Bahia, ele costumava dizer:
- Fala-me de um absurdo! Na Bahia tem precedente!
É o que contam a História e os historiadores da Bahia.
Consta ainda do anedotário baiano ou baiânico que dois malfeitores conseguiram assaltar um banco e saíram num fusca com dois sacos enormes, cheios de dinheiro. Foram até a praia e estacionaram embaixo de um coqueiro. Um puxou logo o primeiro saco e disse ao comparsa:

- Vamos contar logo quanto tem aqui. Depois a gente abre o seu e conta.

- Deixa de bobagem, cara, perder tempo com isso de contar. Vamos é tomar umas cervejinhas e comer uns acarajés da Dete. De noite, na TV, a gente vai ficar sabendo quanto ganhamos.
Dizer e propagar, no entanto, que os baianos são preguiçosos e alérgicos ao trabalho é uma fenomenal mentira e incapacidade de percepção de como são os nascidos e vividos na Bahia. Há décadas a Bahia se desenvolve, com petroquímicas, fábrica de automóveis e de aviões de pequeno porte, indústrias em geral e está em vias de montar um centro aeroespacial. E a agricultura e o turismo são atividades em vasto desenvolvimento.
Os baianos nunca foram e jamais serão preguiçosos. Estão sempre atentos. Numa casa de praia, o filho robusto tirava uma soneca na rede da varanda quando a mãe lhe gritou em alarme:

Cuidado Zeca, tem um cobra enorme aí pertinho de você! Ele constatou o perigo e gritou para a mãe: - Mãe, nós ainda temos o soro antiofídico em casa?
- Claro meu filho, está no armário de remédios.
- Ôba, então vou acabar meu cochilo e depois vou lá aplicar o remédio contra a cobra. Tcháu mãe ? e virou-se para o outro lado da rêde, pensando: um bom sono não se desperdiça.
Os baianos se esforçam no trabalho, nas ciências, nas artes, na medicina, além da aproximação entre todos os povos. A Bahia já teve uma experiência honrada, neste particular, em vista a pacificação entre os povos, de qualquer origem. Neste particular a Bahia também já colaborou na conivência sul-americana, em trabalhos de pesquisas médico-científicas.
Há 60 anos, numa das melhores maternidades de Buenos Aires, uma equipe médica lutava para concluir com sucesso o nascimento de mais um cidadão argentino. A situação se complicava e a equipe médica achou que teria de decidir entre a sobrevivência da mãe e seu primeiro filho. Situação que passou a emergência.
O chefe da equipe médica decidiu que se em 20 minutos não conseguissem concluir o parto, a situação ficaria entre a sobrevivência da mãe e o nascimento do filho. Suspense total na sala de partos. Alguém lembrou que naquele hospital havia uma equipe de médicos recém formados no Brasil e em estágio na maternidade.
Foram chamá-los e então mandaram para a sala de parto um recém formado cirurgião brasileiro. Mais especificamente, um médico brasileiro nascido e formado na Bahia. Portanto, tratava-se de um médico baiano, com todas as honras.
O médico e cidadão baiano, com a equipe, resolveu em 30 minutos os problemas cirúrgicos e concluiu o parto com êxito. A mãe ficou imensamente feliz com seu primogênito. E assim a Argentina, com o apoio e a perícia de um médico baiano, sem descuidar da equipe nem desmerecer os médicos argentinos, ganhou mais um ilustre cidadão.
Um ilustre personagem que, a partir de sua adolescência, e dando vazão à sua vocação profissional, já começava a demonstrar que em poucos anos se destacaria como um dos melhores e mais decentes jornalistas internacionais. Que honra a profissão, a Argentina, o Brasil e last but not least, a Bahia.
Mas convém evitar excessos como o de uma canção, que diz:

Pau que nasce torto,
Não em jeito, morre torto.
Baiano burro, garanto
Que nasce morto
Se assim fosse, realmente, Jesus Cristo não teria sido a única pessoa a ressuscitar neste mundo, até agora.
**José Fonseca Filho é jornalista ( e baiano).
* Bahia, do pintor argentino Carybé


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