Poemas
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22/07/2024 00:00
O dobro da paixão
José Fonseca Filho **
Encontrei uma mulher em minha vida que eu a vi apenas duas vezes, mas ocorreu de ficar tão apaixonado, quase perdidamente, apenas em decorrência destas raras e rápidas visões. Sendo que, numa destas duas vezes, ela estava, inclusive, inteiramente de costas para mim. Assim, quase não valeu. De fato, nesta posição ela nem poderia me ter visto direito. Mas eu a observei, vi, percebi, assinalei, me encantei. Era a mesma mulher que por muito tempo foi personagem de meus sonhos, minhas memórias e esperanças.
Mas eu sim, a vi plenamente, nas duas vezes. De frente e de fato era bonita. E de costas também, sem razão para dúvidas. Era uma mulher perfeita por todos os ângulos. Estabeleceu-se logo em mim um desejo forte mas educado, contido, respeitoso. Do tipo gostar logo mas se apaixonar conscientemente, aos poucos. Pode parecer difícil de acreditar, mas no caso deste amante pretensioso, havia razões suficientes para se apaixonar. Se configurava um caso de ganho, alegria e decência.
Um bom futuro se configurava. Na terceira vez que a vi, praticamente no mesmo local, ela olhava para a beleza do Sena e suas águas, agora bem tratadas, prontas para o desempenho dos atletas durante a Olimpíada. Ela estava sentada na amurada do rio, de frente para a rua. Ou seja, toda sua beleza exposta à admiração dos passantes. Dos dois lados da rua. Não mais o problema de ver a mulher de costas. Assim foi a primeira vez que
Jerome estancou a caminhada e se pôs a admirar a beleza de Helène, mesmo do outro lado da rua.
Os dois pareciam que se procuravam, e então se encontraram. Logo se cumprimentaram, sem muita cerimônia. Ficaram 50 minutos em conversas, admirações mútuas, sorrisos, troca de ideias. Pendent ce temp uma ligeira sensação mútua de desocupados em busca de qualquer atividade. Ao mesmo tempo as partes mais sensíveis de ambos começam a se destacar. Voilá, c´est si bon. Passaram três dias seguidos se encontrando e começam a se destacar. Sempre no mesmo local. Afinal, ao longo do Sena a paisagem não muda muito. O já quase casalzinho cada um contando as emoções de suas vidas.
Helène casou duas vezes mas não gostou de nenhum dos maridos, e confessou não ter interesse por um terceiro. Por ser bisneta de Napoleão ganhou uma bela aposentadoria do governo e passou praticamente toda sua existência como uma bon vivant. Aquelas em que as pessoas não precisam trabalhar porque possuem recursos que tornam tal atividade dispensável. E por dispor, ainda, de um chateau no val de Loire. Jerome é
herdeiro de uma pequena vinícola que deu para sustentá-lo por muitas décadas. Na verdade eu não era bom nem tinha aptidão para nada, confessou. E sobreviveu bem com sua saborosa herança.
O novo quase casal procurava e encontrou, enfim, em suas vidas estreitas, aventuras e divertimentos, além de admirar os (as) atletas em ações diversas pelo Sena. Da mureta onde sentaram, assistiram toda a olimpíada. Voilá l´olimpiad a Paris! Moi? Je cherche encore la femme que j´ai vu deux fois, seulement. Et ça etait fantastique. Je suis encore passioné, mais toute seule. Jusqua! a la prochaine Olimpiade.
** José Fonseca Filho é jornalista
* Pintura - Mujer elegante - Autor desconhecido
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