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25/02/2021 00:00

O estrategista perverso
Por Carlos Marchi **
Faço um mea-culpa: constato que Bozo não é burro, como escrevi aqui várias vezes.
Ele é um estrategista perverso. Que não se importa em aturdir um país, prejudicar milhões de pessoas para conseguir sua reeleição.
A grande estratégia de Bozo, que pode determinar a sua reeleição, envolve a questão da compra (ou não) de vacinas.
Ele sempre arranja um jeito de atrapalhar ou melar cada possibilidade de compra de vacinas, percebeu?
Parece puro negacionismo, mas não é. É uma estratégia cruel, mas montada com fina e perversa inteligência.
Por que o "governo" de Bozo não compra vacina, afinal?
Dinheiro não é problema. Desde fim de 2020 temos R$ 20 bilhões alocados e reservados para comprá-las.
Façamos uma conta: com R$ 20 bilhões ou US$ 3,7 bilhões, na base de US$ 15 a dose, dá pra comprar 247 milhões de doses.
Bozo não compra porque não quer - ou melhor, porque sua estratégia é deixar a sociedade sem vacinas, acuada e desesperada.
Essa estratégia perversa gera muitas "vantagens" para ele.
Sem vacina, o povo não pode ir para as ruas protestar - a falta de vacina garante uma sociedade desesperada e desmobilizada.
Governadores e prefeitos se desgastam, colocados contra a parede, enxugando gelo diariamente para arrumar vagas de UTI.
Ele encobre a situação com factoides e digressões, como as tais privatizações de Eletrobrás e Correios.
Por trás do compra-vacina-não-compra-vacina, a maior perversidade jamais cometida por um governante brasileiro.
Outro passo é dado no Congresso: a PEC Emergencial aponta para a destruição das salvaguardas fiscais que duramente construímos.
Sim, porque será necessário ignorar o mecanismo do teto de gastos para conceder o novo auxílio emergencial.
Que será pago mediante endividamento do país e, de acordo com a PEC, não tem limites. Logo, poderá ir até fins de 2022.
Se assim for, o auxílio emergencial será o grande cabo eleitoral de 2022 - e garantirá a reeleição de Bolsonaro.
Então, postergar vacinas é vital para garantir a desmobilização do povo, o acuamento de governadores - e a reeleição de Bozo.
Por outro lado...
O enfraquecimento das salvaguardas fiscais interessa a Bozo, mas interessa muito mais ao Centrão, que a sustenta no Congresso.
Com as salvaguardas arriadas, os limites de gastos do governo saem do represamento sadio - e eis aqui o pudim do Centrão.
É óbvio que, com Bozo e o Centrão operando, a LRF nunca mais será retomada, assim como o teto de gastos e a regra de ouro.
E aí o Brasil volta aos tempos sombrios do governo Sarney ou, pior ainda, retorna ao ambiente da ditadura.
** Carlos Marchi, premiado jornalista e escritor. Autor de Senhor Republica e Aquele Imenso Mar de Liberdade.
Crédito Imagem: Scielo
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