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Distrações - Laura Irene Ramirez Gandía

11/07/2020 00:00




Distrações
Por Laura Irene Ramirez Gandía **
Quando surgir a certeza que predispõe à ação, chegou a hora. 
Foi isso que Antonio pensou, tenho certeza, eu o conheço.
- Ay Clarita! Chegou o dia, por que deve rejeitar minha declaração de amor? Nós nos vemos há um ano e você sempre aceitou com prazer meus convites e atenções.O que pode dar errado? Você é solteira, não tem outro pretendente. Sua família sempre me recebeu gentilmente. Até a sua maldita tia abriu uma vez a porta para mim. Por outro lado, Clarita, você já viveu o suficiente para pensar em formalizar. Ainda é linda e graciosa. porém não tão menina.
À medida que a hora do encontro se aproximava, ele ultimava os detalhes, tinha que ver. 
Tantas vezes tinha praticado o que lhe dizer sob o chuveiro que nem percebeu que não tinha terminado de enxaguar-se, ainda tinha sabão nos ouvidos.

- Vamos passar revista, meu terno está impecável; meus sapatos brilhantes; a camisa engomada; as meias cinza, a gravata borboleta azul com pintas vermelhas que eu acabei de comprar.

Ele vestiu-se inmaculadadamente, parecia um dandy dos anos 30, entendeu a situação?
Sentia-se bem, parecia seguro.

- "Será um dia inesquecível para os dois Clarita" . 

Olho-se no espelho, penteou cuidadosamente os bigodes e perfumou-se com colonia La Franco, estava quase pronto. 
- Oh! meus olhos estão vermelhos de insônia, vou colocar colírio, quero que meu olhar pareça o mais puro possível, como se tivesse nascido novamente ao falar com ela...vamos ver, o colete e a braguilha estão abotoados, perfeito. 

Pegou o lenço, a carteira e as chaves e fechou a porta e, como sempre, a abriu novamente. Esqueci nada Antonio.
 - "bem, que estranho pensar que quando eu voltar a este universo, não será mais o mesmo para mim"
Ele desceu os dois andares desta escada perigosa, com degraus de mármore branco escorregadio, que quando limpos parecem lubrificados, e foi embora. 

A tarde estava fria, o cheiro inebriante da primavera estava no ar, já próximo da loja de flores. Na esquina comprou um buquê de rosas vermelhas, da paixão para acendê-la.

Ele andou dois quarteirões. As pessoas sorriam para ele quando passava. Eu sei o porquê, mas não vou dizer agora.
-"O que acontece? Hoje todo mundo me cumprimenta de maneira diferente, deve ser verdade o que dizem que nos olhos se ve o que temos na mente e o coração ?-

Ele pegou um táxi para chegar quinze minutos antes, sempre fazia o mesmo, viu que estava atrasado. O motorista sorriu para ele através do espelho durante o trajeto.  
- "Enquanto espero por ela, não vou tomar o costumeiro café, para ver se ainda assim cai a maldita gota de sempre na minha camisa" -
 
Ele estava parado no canto. Impaciente.
- "Ela, tão vaidosa, como gosta de me fazer esperar! Mais de dez minutos depois da hora; é sim, coisas de mulheres, ela adora me deixar esperando". 

Quando a viu, a meio quarteirão, esboçou um sorriso transformado em riso aberto quando se aproximou.
- "Ela também caprichou hoje, está radiante, deve intuir algo" .
- Clarita, como ela está linda e feliz hoje!"

Ela não o beijou como sempre, apertou a mão dele.
- "Ay Antonio, eu não sei se lhe contar" -
- "Clarita, o que há de errado?" -
- "Não sei se lhe contar Antonio" -
-"O que? Vamos para a confeitaria, Clarita? 

Ele queria pega-la pelo ombro, mas ela insistiu:
- Não sei se lhe contar Antonio

Então ela olhou nos olhos dele e ca.rinhosamente acariciou a sua cabeça, removendo cuidadosamente a rede de cabelo cinza que ele sempre usava para que seus cachos não se tornassem juba de leão. - ele tremeu as pernas com aquele gesto -. Jogou com disimulo a rede de cabelo no chão e pegou o braço dele.

-  Eu não sei como lhe dizer Antonio, entramos

E Antonio nunca ficou sabendo. 
** Laura Irene Ramirez Gandía, artista, astróloga e docente. 
Crédito Pintura - Harm Plat - Fine Art America



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