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Comida: Ilusão, na TV e não em casa - José Fonseca Filho

27/05/2022 00:00




­Comida na ilusão e na TV e não em casa 

Por José Fonseca Filho **
Boa parte dos brasileiros (as) estão passando fome cada vez maior, e para evitar o prosseguimento do terrível drama nada foi possível fazer, até agora. Para os próximos meses também não. Os governantes, atuais e futuros, estão ocupados participando da campanha eleitoral.
Se eleitos, possivelmente a partir de janeiro eles estejam prontos, dispostos a trabalhar para melhorar a disponibilidade de comida aos habitantes deste país sofrido. Por enquanto a carência está pesada, e nem os bondosos fornecedores de comida pronta ou de alimentos para serem preparados em casa, estão conseguindo manter sua contribuição. Para eles os gastos também estão ficando pesados.
 A eleição que se aproxima é oportunidade para que os candidatos aos cargos executivos pensem, com objetividade, no que poderão fazer para superar o problema da fome e da miséria dos brasileiros, ao assumirem seus novos encargos. A situação só tem piorado. É uma lástima, que pode acabar virando uma revolta.
Ou isso significará que as campanhas eleitorais não terão nenhuma utilidade, salvo para enganar e trair o povo. Não será a primeira vez. E a vigência da fome é a falta de solução para o drama da pobreza. Situação geral tendente ao agravamento. Insuportável, para os seres humanos decentes, ver mães e filhos nas favelas em busca de alimento e roupas.
Existe no Brasil um fenômeno que persegue o seu povo. A começar pelo Nordeste, que antes matava pela seca e agora está liquidando o povo da região com enchentes provocadas por chuvas torrenciais. Em vários Estados.
Um drama a ser resolvido com urgência mas mesmo assim sem boas perspectivas de solução. O aumento da pobreza e a redução de alimentos para as famílias pobres é uma questão dramática. Nas maiores favelas de São Pulo e do Rio formaram-se grupos dos próprios favelados que se organizaram ao longo da pandemia criando entidades corporativas. Recebem alimentos dos contribuintes e fazem a distribuição para as famílias carentes.
Todavia, convém alertar que esse tipo de ajuda está acabando. Já não há comida nas casas dos pobres. Os doadores estão ficando sem recursos. Agora os pobres correm aos postos de distribuição para pegar o que eventualmente tenha sobrado, disponível. Revoltante o que o governo federal e os estaduais permitem que aconteça com os brasileiros. Muitos com filhos nos braços, sobrevivendo com extrema valentia. Os candidatos, enquanto isso, correndo atrás de votos e enganando a população.
O interior do país, em várias regiões, tem sofrido com chuvas torrenciais, desabamentos e mortes. Boa parte de nossa população mais sofrida está sem casa e sem comida, mas continuarão lutando. Nem que tenha de esperar pela divina providência.
Ilusão de comida, exageros de criatividade, farta variedade de temperos e quitutes, doces, salgados, mal passados, tostadinhos, camarões, lagostas, um tal de escargot, pamonha e mais dezenas de variedades de comidas são encontráveis, no entanto, em nosso país. Uma mistura de tentação com impostura e máquina de propaganda. Ali tudo tem marca e alguém está pagando um preço elevado.
Muita fartura e muitas comidas, doces, receitas na base do excesso, comidas e fantasias estimulantes visando alcançar espectadores e clientes de todo o país. São os novos programas de comida da televisão, cada canal tem um verdadeiro espetáculo de culinária, mais de 20 chefs de cuisine concorrentes.
Um monte de pessoas que não se interessam pelo que acontece lá fora. Desde que haja de tudo para eles. Vivem num espaço de alegria meio fútil, provando tudo que lhes vem à boca. Câmeras passando em frente, exibindo nas telas da TV mais comidas para os glutões. Os maitres de cuisines se exibindo e fazendo gracinhas bobas para os telespectadores.
Lá pelo interior de uma cidade cearense, dezenas de conterrâneos encostados nas paredes de um ginásio começam a despertar de um café - xícara pequena - com mandioca e meio pedaço de pamonha para os mais velhos. Restos de um suposto lanche no dia anterior.
O popular tio Félix, na sala ao lado, acabara de ligar a televisão e estava passando um programa de ?cumida?, como dizem eles. Só de ver um filé au cordon bleu na tela Felix quis avançar na televisão. Deve ser melhor do que galinhada, frisou e passou o dedo na tela, mas não tinha gosto.
A turma se aprestava para ver um tacho de comida boa. Na telinha, claro. Sai da frente que eu quero ver o peru assado por esse idiota de chapelão, gritou alguém na sexta fila, diante da TV. Aquele ali parece um bode mas eu queria ver era um pato assado, gritou dona Mariá. Uma das melhores cozinheiras da região, há tempos sem trabalho.
Quando o maitre na TV ia começar a preparar um perú au foi gras, o zangado Pedro Santos, sempre de cara amarrada, não se conteve. Foi na varanda sem teto, pegou o ultimo tijolo da obra e tacou na tela da TV. Não sobrou nada do aparelho. Vai cozinhar nos infernos, gritou Pedro, e se mandou.
Os principais canais da TV possuem seus programas de culinária de alto estilo, com uma média de cinco chefs de cuisine, três doceiras e quatro aprendizes. Tem patrocinador para tudo, até as torradas. Alguns problemas surgiram, mas os produtores estão tentando contornar. Alguns maridos deram a suas esposas prazo de 5 dias para aprenderem e fazerem em casa as mesmas delícias que assistem na televisão.
- Só pra olhar não adianta. A gente fica sem saber se essas comidas que mostram na tela são boas mesmo. Como vamos provar? - Vai ver tem gosto de nada - gritou o maridão no sofá.
No apartamento ao lado, o maridão da mulher foi mais radical. Gritou logo:
- A partir de hoje essa TV é minha, pra ver programas sérios. Se quiser aprender a fazer bolinho, brigadeirinho, gelatina e carninha moída compre uma pra você.
...... Os candidatos continuam em campanha. A falta de comida se agrava nas favelas. Novas enchentes no Nordeste. Vamos continuar tutando pelo nosso Brasil.
** José Fonseca Filho é jornalista e pré-poeta
* Pintura - Hambre y miseria - Graciela Barba




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