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Capitulo 17 - Aos mestres, com carinho

05/10/2022 00:00




­Capitulo 17 - Aos mestres, com carinho  (2020)

Sem bons mestres é difícil aprender. Sem amigos é impossível viver com alegria.

Apesar da minha mediocridade como aluno ao longo dos meus estudos formais: Escola Jorge Newbery, Colégio Nicolas Avellaneda, Icana, Instituto Superior Mariano Moreno e cursos de extensão na American University e na Universidade de Brasília - eu tive a oportunidade de retribuir, em parte, o que recebi dos mestres e professores dos meus colégios e faculdades.

A oportunidade chegou, quando o reitor da Universidad Champagnat, de Mendoza, Argentina, Francisco Lucena Carrillo, me convidou para ser vice-reitor de assuntos internacionais dessa instituição, depois de sair da OEA, onde trabalhei por uma década.

Eu tinha uma única, empolgante, e desafiadora missão. Devia viajar e convencer aos reitores de diferentes países a criar uma associação de universidades latino-americanas. O intuito era fomentar a integração regional, via academia, sem burocracia e com efetividade.

Com o visionário Lucena, viajamos bastante e conversamos muito com diferentes autoridades universitárias.
Finalmente foi criada a Asociación de Universidades de America Latina y el Caribe para la Integración (AUALCPI), que impulsionou o intercâmbio de alunos e professores, a troca de experiências, ajudou a montar cursos e facilitar a aprovação de créditos entre instituições de ensino superior.

Na prática, um estudante passou a poder iniciar a graduação numa determinada instituição de ensino superior e concluir em outra de outro país, mediante convenio. Não ficou assim tão fácil, porque as burocracias fazem o que podem para atrapalhar, mas melhorou muito a situação.

Para começar a lograr resultados práticos, sem grandes investimentos, a Universidade do Vale dos Sinos, de Rio Grande do Sul e a Universidad Champagnat aprovaram que durante um semestre, haveria uma troca de alunos de certas carreiras.

Assim, alunos de Mendoza aprenderam a sua matéria, em português, nas terras gaúchas de São Leopoldo e alunos do Vale dos Sinos cursaram a sua especialidade, em espanhol, na Champagnat na cidade de Mendoza. Todos tiveram os seus créditos aprovados, como se continuassem nas instituições de origem.

A maioria dos estudantes gaúchos que participou da experiência ficou em casas de pais de alunos mendocinos que estudavam no Rio Grande do Sul. Isso é integração de conhecimento acadêmico, linguístico, humano, prático e real.

A partir de 2021 AUALCPI passou a ser uma instituição regional consultiva e de apoio para a agencia da ONU para a Educação, Ciência e Cultura das Nações Unidas (UNESCO) e está empenhada em acelerar à educação superior a distância, com a máxima qualidade acadêmica.

Dessa gratificante experiência ficou para mim, concretamente, um diploma de reconhecimento da AUALCPI que pendurei na parede mais nobre da casa, e guardarei na alma, por essa oportunidade e pelos companheiros dessa jornada.


Joaquim Nabuco

Tive a oportunidade de devolver, de certa forma, o que recebi de ensinamentos dos diplomatas de Itamaraty. Tudo começou numa fria manhã em Washington.

Um funcionário visivelmente emocionado entrou na minha sala no Departamento de Informação Pública da OEA. Entre alguns despojos que tinha retirado de um pequeno deposito para fazer reparações, achou várias placas de vidro com imagens antigas. Achou que poderiam ser algo histórico. Era.

Com a ajuda de um funcionário do arquivo, foi constatado que as imagens correspondiam ao lançamento da pedra inaugural da União Internacional das Repúblicas Americanas (atual OEA), no dia 11 de maio de 1908.

Nessa época, placas de vidro davam suporte às emulsões até que foi iniciada a utilização da celulose. As imagens eram de mandatários e altos diplomatas dos países fundadores da organização regional. Fizemos contato com a Kodak cujos técnicos, após examinar o material, se comprometeram a fazer de tudo para imprimir em papel. As impressões foram feitas em tamanho grande e de tanta qualidade que organizamos uma exposição no Hall das Américas. Foi um sucesso. Era pura história retratada em imagens.

Uma das imagens era de Joaquim Nabuco, diplomata, historiador, e uma das vozes abolicionistas mais fortes. Esse ilustre pernambucano morreu em Washington, em 1910.

Quando fui transferido a Brasília como representante da OEA entreguei a grande imagem de Nabuco ao Secretário Geral de Itamaraty, embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, numa cerimônia onde ele disse que a imagem expressava "... a despeito de sua grande distância no tempo, uma mesma e firme linguagem do Brasil em favor da unidade, do entendimento e da cooperação entre os países das Américas".

Os amigos

Sobre os amigos, constatei que quase sempre estive rodeado por seres humanos mais inteligentes, preparados, generosos e talentosos do que eu. Foi uma constante motivação para tentar ser um pouco melhor.

Boa parte dos amigos foram, em várias ocasiões, verdadeiros anjos. Esses amigos me ajudaram a levantar de vários tombos da vida e seguir acreditando nos seres humanos, na beleza infinita da existência. Os meus amigos semearam idéias, ilusões, sonhos, esperança.

Até a realização de este livro devo a talentosos e generosos amigos: Marcio Pinheiro, José Fonseca, Paulo Roberto de Almeida e Ana Helena Reis, que me alentaram, corrigiram, impulsaram, animaram, orientaram. Sem esse apoio, estas paginas teriam ficado na prateleira dos projetos abandonados. 

Existe na Universidade de Harvard uma pesquisa iniciada há 150 anos. Os pesquisadores fazem a mesma pergunta a voluntários, a partir dos seis anos e ao longo da vida, até o fim: O que fez você mais feliz na sua existência? (receber um brinquedo?, ficar milionário?, se casar?, comprar casa ou carro?, chegar ao topo na carreira?). 

As mesmas perguntas e diferentes respostas ao longo das etapas da vida. Mas, no leito da morte ou a caminho dele, a maioria esmagadora tem somente uma resposta "meus amigos". É também a minha resposta, sem qualquer dúvida.

Grato novamente meu Deus, grato, grato, grato!

Imagem: Amigos, Carl Seiler



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