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07/10/2022 00:00
** José Fonseca Filho é jornalista
Praias portuguesas, com certeza
José Fonseca Filho ¨¨
Aquele país miúdo, como afirmam seus habitantes em referência aos vizinhos continentais, viria a se destacar como uma das mais valentes escolas de navegação por volta do século XV. A partir de
então se firmou entre os maiores descobridores e conquistadores de terras do mundo, até então desconhecidas.
Descobriram áreas de terras de grandes proporções, das maiores até então tornadas conhecidas pelas viagens dos conquistadores lusitanos. Não fossem eles, nós brasileiros não existiríamos por
mais longo tempo. Ou teríamos sido encontrados por gauleses, bretões, árabes, congoleses ou iraquianos. O fato é que daí ampliou-se o Novo Mundo, cercado de países tornados amigos por todos os lados.
Os portugueses eram valentes e bons navegadores. Enquanto as demais semipotências da época partiam para as viagens de descobrimento com mais equipamentos os portugueses, em suas maiores viagens, como aquela em que descobriu o Brasil, partiu de Lisboa com 13 embarcações e 1.400 homens. Menos caravelas
e menos navegadores era para casos de conquistas modestas. E deram logo de cara com um naco de terra incalculável. Em pouco tempo perceberam que elas pareciam realmente que não tinham fim.
Em alguns anos Portugal passou a dominar uma vasta faixa de terras. As do novo Brasil, onde desembarcaram, quase intermináveis seguindo até o alto Amazonas. Hoje sabe-se que só de litoral são 7,5 mil kms, com lindas praias. E de rios, caberiam no leito do Amazonas o Nilo, o Tâmisa e o Sena. Os miúdos,
assim, abocanharam boa parte do território mundial. Mas diante dos investimentos necessários desistiram de formar exército para novas invasões. Já temos terra e água demais, salgada e doce, decidiu o Rei de Portugal. Vamos curtir e enriquecer, acrescentou o Primeiro Ministro.
Começou então o desenvolvimento da amizade entre os dois países, Portugal e o nascente Brasil. Até hoje
fraternos. Portugal é uma faixa de terra avançando ao longo do litoral do continente europeu. Dali saíram
caravelas para outras regiões do mundo, como a África e o Oriente. Hoje muitos brasileiros são encontrados no litoral português, assim como os portugueses se esparramam nas belas praias brasileiras.
O fado e o samba também se entrelaçaram. A cachopa com a mulata. O feijão com o bacalhau. Historiadores
lusos observam que o congraçamento entre os dois povos foi tranquilo. Os portugueses trabalhavam e os brasileiros sambavam. Os lusos iam para Coimbra e os brasileiros para o Maracanã. Um pequeno e um grande país iguais: muito litoral e muitas praias. Assim, paraíso de banhistas.
Mesmo com tanta praia a desfrutar são trabalhadores e dinâmicos os dois povos. Há mulheres lindas e saudáveis dos dois lados. Famílias unidas e alegres. Uma estória de crescimento que começou com a escolinha de navegação fundada em Sagres por D. Henrique. Portugal e seu filhote Brasil sempre tiveram bom relacionamento político e diplomático, situação que até hoje prevalece.
Devido à ganância de Napoleão, que invadiu Portugal para roubar e obrigou o imperador d. Joao VI a fugir para o Brasil, levando tudo que fosse possível. Aos poucos Portugal e Brasil cresceram juntos e até depois da separação continuaram parceiros. A navegação marítima e a exploração das belas praias continuariam até os tempos atuais. Portugal na frente, em termos de exploração do litoral. O Brasil o seguindo e aprendendo.
O litoral dos dois países é bem utilizado por seus habitantes, mas de características diferentes. Em Portugal
altas falésias e penhascos descem até a praia, seguidas por longas escadarias que levam os banhistas até a areia. Descer e subir depois do banho de mar já é um bruto
exercício. As escadarias são realmente altas. E ao chegar à areia cuidado, ela está em 40 graus. Já a água do mar geralmente 5 graus negativos.
Estamos lembrando praias de um país civilizado. Na maioria delas há grandes distâncias entre o desembarque do carro e a descida pelas escadarias. A chegada ao mar é feita por uma grande passarela de madeira sobre a areia, perfeitamente estruturada para permitir uma caminhada segura até o mar. Assim resta aos banhistas poucos metros a percorrer até a explosão da primeira onda. Salvos do sol escaldante.
Os brasileiros estão livres dessa trabalheira. Em suas praias é só pular do estacionamento para a areia e correr para a água, 1 ou 2 km de distância. As vezes pisam numa casca de coco e gritam um palavrão. Vários, aliás, mas não incomodam ninguém. As praias de Portugal são limpíssimas; é só água, areia, sol e protetor solar. Nada de comidinhas e lanches na praia. Se não trouxe de casa e está com fome, basta tomar fôlego e subir ao topo da falésia, onde estão os bares e restaurantes.
Nisso o Brasil é absolutamente diferente. Na praia vende-se absolutamente tudo. Bonés, biquínis, sanduíche, amendoim, protetor solar, sandálias, sucos de todo tipo, óculos de sol, toalhas, espetinho de carne, biscoito de vento e mais o que o digno cidadão imaginar. Os futuros empresários caminham de um lado para o outro gritando para anunciar seus produtos. Vendem ainda águas minerais, cervejas e a famosa água de coco, cujas cascas vão ficando pelo caminho.
Nas praias de Portugal, após caminhar bastante sobre as passarelas de madeira e preparar o retorno à casa, sempre com um dos putos, nossos compatriotas comemoram o belo dia. Nas praias brasileiras, ao final da jornada de lazer, os estragos estão à vista: carrinho de pipoca quebrado, centenas de latas de refrigerantes e cervejas na areia, uma trave de futebol partida e duas crianças perdidas chamando suas mamães. Logo encontradas, exaustas.
O português é um povo estudioso, não apenas em Coimbra. Nas praias é possível encontrar grupos de jovens e menos jovens acompanhando cientistas dedicados à pesquisa da fauna marinha entre a água do mar, pedras e rochedos. São excursões programadas antecipadamente, mediante o escalonamento seletivo dos temas e os interessados. O autor provou alguns quitutes de algas au
naturel e sentiu-se muito bem. Proteína pura.
Ao fim do agradável dia na praia os portugueses voltam para suas residências. A areia continua absolutamente limpa e sem um pedaço de papel ou outro objeto que lá tenha sido esquecido ou abandonado por desleixo. Impecável a praia para receber os visitantes do dia
seguinte.
Nas praias brasileiras as pessoas saem pulando garrafas, latas, embalagens e cascas de frutas, algumas espinhas de peixes, revistas, copos de isopor abandonados na areia. De madrugada a limpeza pública passa para fazer a coleta. Em poucas horas vão chegar mais crianças, recomeça a
algazarra com brinquedos e guloseimas. Manhã de desespero para os pais.
Praias brasileiras, com certeza.
** José Fonseca Filho é jornalista
Imagem: Praia Algarve, Essemundoenosso
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