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O vicio do caboclo - (Poema de cordel) - Guillermo Piernes

07/07/2023 00:00




O vício do caboclo
De Guillermo Piernes **
O caboclo Dionísio não sabia
Que seus vinte seis anos de vida
Foram guiados de forma especial
Pelo hipertrofiado sistema cerebral
Que abaixo do córtex humano regula
Prazer, ira, paixão, sexo, amor, gula.
Límbico é chamado o tal sistema
Que afetava o caboclo, nosso tema
Era tão desenvolvido e grande
Que de saber teria feito alarde
Entre seus amigos de prosa
Pensando que era outra coisa.
Ira e gula não vingaram no peito dele
Prazer, amor, sexo era tudo para ele
Seu corpo ajudava na conquista
Atraia a quem lhe passasse revista
Ser alto, cabeludo, ágil, gentil e forte
Era a maneira do caboclo de ter sorte.
O cabelo era preto, pele bronzeada
Por todo canto da Paraíba andava
Vendendo roupa, cintos e bijuteria
Pagava todas suas contas em dia
Ganhava um dinheiro bem razoável
Com as raparigas era muito amável.
Presenteava brincos, tecidos e rapé
Para todas as meninas do cabaré
Espirrar, dançar, cantar, fazer vestido
Dando a suas sofridas vidas, sentido
Assim elas devolviam cada dia
Sexo, prazer, satisfação, alegria.
Até no bordel mais afastado
O caboclo Dionísio era falado
Pela sua volúpia descomunal
E uma energia quase animal,
Também pelas delicadas gentilezas
Transformando putas em princesas
Era um caboclo quase sem vicio
Nunca se entregou ao ócio
Não bebia álcool nem fumava
Não tocou maconha ou cocaína
O único ponto que o desmoronava
Era a sua obsessão por uma mina.

Um dia qualquer, num mercado
Enviou convite de amoroso recado
"Viver um puro e platônico romance"
Para uma linda e sensual morena
Que ao responder o deixou com pena
"O moço é louco ou está em transe".
A rejeição foi tão inesperada e dura
Por pouco numa arvore se pendura
Pensou em se entregar a bebida
Tipo de fuga por alguns preferida
Mas o caboclo resistiu à tentação
Ficava deitado sem achar solução.
Dormia mal, faltava ao bar e trabalho
Não conversava nem jogava baralho
Pouco comia, todo carecia de graça
Pela dor, vida passava a ser desgraça
Evitava os amigos e muito menos ria
O rapaz estava com a alma corroída.

Os amigos apareceram na casa
Com cervejas, sanfona e um violão
Para tentar apagar essa brasa
Que queimava o jovem coração.
Nada teve sucesso nem sorte
O caboclo clamava pela Morte
A Dama da Morte apareceu
De vestido longo, capa e véu
Cabelo longo, solto e preto
Lábios grossos para lançar o reto,
Pálido o rosto, olhos penetrantes,
"Você quer que te leve antes?"
Concedeu-lhe um último desejo
"Fica nua e me da um beijo"
O desmiolado caboclo respondeu,
A Dama irritada, educada, o mandou
ver "a dona da barriga onde saiu"
Depois, raivosa e sola, desapareceu.
O caboclo assim a sua vida salvou,
Os amigos e os cantos recuperou
Mas traindo até a honesta, própria fé
Em diante, a diário, visitou o cabaré.

** Guillermo Piernes é escritor, jornalista e diplomata
Pintura: Mulher Nua, de Bouguerau


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