Contos
Cuentos
31/07/2023 00:00
Charles Chaplin tinha razão
CENA V ( Ano 18 )
Por Guillermo Piernes **
CENA I (Ano 0 )
Guiga nunca quis imitar seu ídolo Charles Chaplin porem o Destino o fez seguir alguns dos seus passos mais importantes.
Após transitar pelo jornalismo e publicidade, passou a ganhar a vida como roteirista de filmes, vários de boa qualidade e outros traçados pelos diretores ou patrocinadores, aos quais tinha de agradar para ter ingressos razoáveis sem lhe importar os julgamentos da crítica.
Nesses casos de prostituição do seu talento e inteligência se sentia como aqueles homens comuns retratados pelo genial Carlitos, humilhado no trabalho pelo chefe, explorado ou traído pelas suas mulheres.
Salvo esses contratempos, Guiga levava uma vida que poderia ser classificada de ótima. Carro esportivo, tempo para jogar tênis, boa casa com adega, biblioteca, e uma suíte decorada com muito gosto e visitada frequentemente por mulheres de cair o queixo. Ele chegou a esse estágio após passar por dois casamentos que o deixaram mais experiente, com menos patrimônio, e quase sem ilusões sobre a possibilidade de voltar a amar.
"Minha vizinha é linda e jovem. Estou certa que vai te encantar", disse a divertida amiga durante o animado coquetel em casa de um lobista. Também comentou que a moça ia ficar deslumbrada pelos seus livros de arte, com suas histórias de um homem amável e viajado, com o corpo de ativo tenista, profissional de sucesso.
- Por que não?
A amiga a levou para sua casa, comentando sobre a biblioteca, a piscina rodeada de palmeiras-imperiais, o charme de um coroa bonitão de 51 anos, na cálida noite de Brasília.
Foi como um raio. Ele sentiu que faltava ar nos pulmões. Dezoito anos, inquietos olhos castanhos com um toque azulado, cabelo longo, também castanho, solto. De estatura mediana, fina silhueta valorizada pela calça azul e a blusa de amarelo suave, com sandálias de taco médio. Ela ainda insegura da sua beleza. Ele extasiado.
A jovem, timidamente, aceitou uma taça depois de muita insistência. A primeira e última bebida alcoólica tinha sido na graduação do ensino médio, dois anos antes... A amiga inventou uma desculpa e foi embora.
Em palavras, somente trocaram o básico, algumas ideias sobre pintura, literatura e da universidade que ela começava a cursar. "Quero que conheças a minha biblioteca", Ele disse após os drinques e da introdução a alguns clássicos do jazz.
- O que estou fazendo?, perguntou-se. Não quis procurar a resposta. "Sou 33 anos mais velho que ela", pensou para encontrar forças para sair da tentação. Não conseguiu. Quem comandava nesse momento era uma outra força, poderosa, irresistível.
Tomou a sua mão para subir pela escada de madeira. Ela achou algo muito gentil. Para Ele esse gesto era uma necessidade. Precisava pegar a delicada mão feminina porque se sentia sem equilíbrio e sabia que não era pelo efeito de uma única dose de whisky.
Ele não mostrou a biblioteca. Antes de chegar perto dos estantes, a beijou com fervor. Seus lábios pareciam transmitir que a tinha beijado desde sempre. Ela estava indefesa, paralisada. Ela deixou ser beijada. A recostou no tapete no centro da sala da biblioteca. Tirou a sua blusa e a calça com delicadeza. O resto ele tirou com uma determinação que seria difícil de resistir.
Com a boca explorou cada centímetro da sua pele branca, suave e perfumada. Escutou o jovem coração acelerar quando passeava pelos seus seios. Notou uma pequena cicatriz perto do púbis úmido de desejo. Ele voltou a beijar sua boca. A jovem colocou a sua pequena mão sobre o forte peito masculino para que os seus olhos se encontrassem direta e profundamente. Nesse momento caiu toda resistência.
Os corações demoraram em recuperar os batimentos regulares.
Nelly - esse era o seu nome - cravou a sua mirada nesse quase estranho. Olhou perplexa a esse homem a quem tinha conhecido tão recentemente e com quem acabava de fazer um sexo explosivo e gratificante. Tinha feito amor em todas as suas dimensões. Fascinada, seus olhos refletiam prazer e assombro. Os olhos dele estavam cobertos pelas lágrimas. Sim, tinha topado com a paixão da sua vida...
CENA II ( Ano 4 )
Três anos anos tinham passado daquela noite especial.
Ele trabalhou muito nesses anos e até fez algumas consultorias para políticos. Quando um deles o convidou a ingressar ao seu partido para poder usufruir de um alto cargo, rejeitou o convite, lembrando um episódio na vida do Carlitos, descrente como livre pensador nos partidos políticos .
Em 1952 Chaplin abandonou os Estados Unidos por pressões da então poderosa Comissão de Atividades Antiamericanas. Chaplin foi colocado oficialmente "sob suspeita", e respondeu com um telegrama ao Secretário da Justiça dos Estados Unidos, James P. McGranery: "Não sou comunista. Jamais na minha vida aderi a qualquer partido político. Sou o que o senhor chamaria de mercador da paz... Não penso que devam dividir as pessoas segundo suas opiniões. Isso conduz ao fascismo. Creio na liberdade. Esta é a minha política".
Assim acabou o relacionamento entre Chaplin e o governo americanos e o do Guiga com o trabalho profissional para políticos. Sentia como própria a definição de Chaplin. Era também a sua política. Mas teve uma torturante experiência ao divergir na política do seu ídolo no terreno do amor.
Sabia que somente um Charles Chaplin era capaz de manter no ápice e dividir o amor que encontrou na sua maturidade, Oona O´Neil era 36 anos mais jovem que o gênio do cinema quando iniciaram o namoro do qual nasceram oito filhos. Mas Chaplin era Chaplin e ele apenas um ser desbordado pelo seu sentimento por Nelly.
Era um relacionamento que o alegrava, estimulava, despertava seu lado de protetor, o levava ao prazer intenso, pleno. Como quando fizeram amor ao voltar ao hotel em Salvador, após celebrar a chegada do novo milênio, na praia lotada de pessoas vestidas do branco. Como quando retornaram ao quarto após assistir ela dançando entre belos e fortes jovens negros suados, no ensaio de Olodum na capital baiana. Ele fez o amor sentindo que essa mulher que tantos desejavam, se entregava, completa, somente a ele.
Ele queria passar cada noite da sua vida com ela. Foram viver juntos.
Foram dois anos inesquecíveis, quando moraram juntos, num apartamento frente ao mar, no Rio de Janeiro.
Mas acabou. Ele não quis repetir a experiência de filhos que pudessem ameaçar a sua paixão, louca, sim, como toda paixão. Nelly queria ser mãe. Tinha razão. Ele não queria ser pai mais uma vez. Queria continuar com dedicação plena a essa paixão. Filhos davam sentido à existência, porém eram incompatíveis com uma paixão avassaladora, arrebatadora, que não aceitava divisões. Ele não queria se privar sequer de um minuto dessa paixão, perder uma carícia, um olhar de carinho, uma noite de amor.
Charles Chaplin consegui dividir. Ele não.Guiga apostou alto: Ou tudo, ou nada. Ficou nada.
Ele a deixou partir para seguir seu instinto de ser mãe. De ter uma casinha, cuidar da cria. Ficou com a dúvida, se essa foi a primeira vez que teve um gesto de supremo altruísmo ou foi apenas um total idiota. A partida o deixou com o coração em mil pedaços.
Ficou uma ferida que às vezes se abria por um monte de imagens que surgiam na sua cabeça, por uma saudade que apertava o peito, pela pele inconformada por não sentir a eletricidade insana quando a acariciava toda.
CENA III ( Ano 13 )
Entre muitas indas e vindas por motivos profissionais, Guiga decidiu passar um tempo numa fazenda como oito cachoeiras na Chapada dos Viaderos. Ficava a uns 20 quilômetros de Formosa, onde Nelly vivia com seu marido. No se conteve e ligou para ela, porque queria saber como ia a vida dessa mulher apaixonante. "Vou te fazer uma visita", foi a rápida resposta.
A meia manhã de uma ensolarada sexta-feira, o carro de Nelly estacionou. Não foi um saludo, um abraço carinhoso entre seres que bem se querem. Foi um beijo demorado, com os labios querendo trasmitir toda a falta que um fazia ao outro, como se as palavras pudessem distorcer sentimentos.
No quarto da cabana se desvestiram lentamente. Se acariciaram transmitindo saudades represadas. Se amaram prestando atenção a cada movimento, cada gemido, cada suspiro, como espectadores e protagonistas de um conserto único que estava acabando. Uma música que dificilmente voltaria a ser ouvida.
Almoçaram e caminharam pela trilha que acompanhava o rio. Apenas o trinar de alguns passaros, sem outros seres humanos a quilômetros. Falaram apenas de cada um, como se outras pessoas tivessem desaparecido pela varinha de uma fada madrinha. Criaram seu momento mágico, como se nada mais existisse, salvo o murmurar das aguas do rio, das folhas agitadas pela suave brisa.
Entraram numa piscina natural, com a água transparente dando movimento aos seus corpos nus. Se beijaram como se fossem duas crianças encantadas. Tal vez eles o fossem nesse instante.
Se vestiram. Caminharam ate onde estava estacionado o veículo. Sorriam um a outro, com os olhos sem disimular a tristeza, antes do carro se perder entre as frondosas árvores, que margeava a estrada de terra.
CENA IV ( Ano 17 )
Foi um relacionamento que tinha abalado seus pilares e tocado cada corda da sua emoção e sentidos. Em todo esse tempo tinha lutado e perdido na tentativa de esquecer. Até que um 11 de agosto - dia do aniversário dela -, o telefone chamou no seu apartamento, em São Paulo.
"Surpresa, sou eu!". A voz inconfundível de Nelly chegou aos seus ouvidos, ao seu peito. Eles conversaram por meia hora. Falaram e riram como se o tempo não tivesse transcorrido. A comunicação finalizou quando Nelly disse "como gostaria de te encontrar depois de tanto tempo" e ele respondeu: "eu mais do que você"...
O reencontro foi no aeroporto de Viracopos, em Campinas. Ela estava radiante, na sua plenitude. Teve a impressão que a luz aumentou no hall do aeroporto quando passou pelo portão de chegada. Abraçaram-se e beijaram com saudade, sem pudor. Não importavam os curiosos, o que valia era o reencontro.
No jantar, ela conseguiu contar que estava "dando um tempo" na relação com o marido. "Você tinha razão, os filhos complicam o casais, ainda mais quando a minha profissão demanda tempo e atenção", ela disse. Contou que era um bom relacionamento, com respeito. "Tá tudo muito bom, mas realmente..." Os dois muito riram ao lembrar simultaneamente do debochado comentário introdutório de uma canção. Ele disse que estava enrolado com uma boa mulher. Somente isso.
A nova lua de mel foi num hotel perto de Itú. Durou três dias e noites. As saídas do apartamento foram para um restaurante alemão, ou bar aconchegante, uma uma caminhada por um parque. Também para o museu que exibe o primeiro piano fabricado no Brasil, para passear pelo clube de golfe da cidade e uma vez ao supermercado para reabastecer a geladeira com champanha. No apartamento, saídas da cama apenas para o chuveiro, ou para usar a geladeira ou a máquina de café na cozinha.
Ele se sentiu um adolescente e Ela uma princesa, adorada pelo seu cavalheiro gentil e apaixonado, atento a cada detalhe, a cada desejo. A despedida foi um "até logo". Nenhum dos dois estava saciado.
Um mês depois, Ela o recebeu no aeroporto de Brasília. Dali direto para um churrasco de aniversário de Luiz, amigo de muitos anos. Era para desejar feliz aniversário e a oportunidade para confessar ao amigo do peito: "É a mulher da minha vida". Do aniversário para um hotel na Asa Norte, reservado por três dias.
Ela teve que sair várias vezes do hotel para dar um apoio aos dois filhos, na vizinha Formosa. Ele teve de atender várias vezes o telefone fora do quarto. Os dois sabiam que estavam na contramão. Nenhum deles falou, mais tinham certeza que essa paixão ia colidir frontalmente com a rotina cotidiana, a paz, o equilíbrio, a dita normalidade.
CENA V ( Ano 18 )
Mais um ano tinha passado de se beijar docemente na despedida no aeroporto de Brasília, onde chegaram com ela no volante do seu carro e ele sem parar de acariciar seus cabelos.
Um resort seria inaugurado no interior de São Paulo. Ele estava convidado. Ligou para ela, que na hora aceitou o convite. Assim foi marcada a chegada da Nelly ao aeroporto de Guarulhos, na véspera da grande festa.A viagem até o resort durou menos de uma hora. Para eles foram instantes, no atropelo de contar as novidades represadas pela tentativa de não abrir feridas quase cicatrizadas.
O resort em Mogi das Cruzes fica a beira de um grande lago. Marina, dois bons restaurantes, salão de festas, campo de golfe, ginásio. Nada disso viram no primeiro dia. Eles ficaram no quarto a meia luz, sentindo prazer, alegria, gigantesca felicidade pelo reencontro com o outro ser querido, sem uma pisca de temor, desconfiança. Entrega do corpo, da alma.
Fizeram amor se olhando com carinho. Acariciaram-se cada centímetro com excitação, com saudades. Ela estava com a musculatura mais definida fruto da academia freqüentada três vezes na semana. "As nádegas estão mais firmes das que apertei a primeira noite", ele comentou. "Teu cabelo está lindo assim mais prateado, mas você continua o mesmo tarado", ela respondeu antes de beijá-lo por centésima e iniciar um novo ciclo de paixão desbordada.
A noite da inauguração do resort os fogos de artifício coloriram a noite.Todo mundo vestido de branco. No gramado dos jardins eles se abraçaram forte, sentindo que esse espetáculo era apenas para eles.
No tarde seguinte, nas espreguiçadeiras junto ao lago, pediram um espumante e ela aproveitou para contar, orgulhosa, que seu filho já oito anos e a sua filha cinco anos e que se parecia com ela, quando tinha essa idade. Nelly contou o que fez depois de completar a faculdade. Falou da sua casa numa localidade perto de Brasília. Ele contou sobre seus trabalhos, viagens, conquistas. Os pontos de vista de ambos coincidiram quando se tratou de assuntos cruciais de política, música, livros, vida.
Jantaram cedo para voltar para a cama tentando ser um corpo só, com o sexo em brasa e os corações batendo ao uníssono, acelerados. "Os peitos quase não caíram e olha que amamentei seis meses", ela disse e os exibiu perto do rosto dele, vaidosa. "Sei não...preciso comprovar essa afirmação" ele respondeu antes de novamente se engalfinharem sem prestar atenção aos travesseiros derrubados no chão.
Caminharam de mãos dadas antes da última noite no resort. Riram e admiraram as flores, curtiram as estrelas, a brisa, os aromas. Confessaram seus maiores vexames, fracassos, medos, sabendo que as confissões estavam seguras e guardadas para sempre entre os dois.
Na última noite fizeram amor por muito tempo até caírem exaustos, saciados, completos. Acordaram com as primeiras luzes do dia. Pediram café no quarto. O último café. Depois do chuveiro, ela caminhou nua e lentamente, se ajoelhou sobre a cama e disse "Vem". Não houve caricias, nem beijos. Ele ficou em pé a beira da cama. Apenas sexo mecânico. Uma oferenda sexual cruel, planejadamente fria, até dolorosa, para matar a emoção da despedida.
Nada falaram na viagem até a casa da irmã del, Helena, em São José dos Campos. Guiga parou o carro a dois quarteirões da casa. Uma rápida troca de olhares. Ele abriu a porta para ela descer no antigo posto de gasolina. Nada foi dito. Nelly caminhou sem olhar para trás. Ele rapidamente dirigiu até voltar a rodovia.
Suas lagrimas atrapalhavam. Pensou até em parar no acostamento. Mas decidiu continuar dirigindo. "Poucos receberam a dádiva de viver uma paixão tão grande...", repetiu uma e outra vez. Não funcionou. Teve receio de provocar um acidente.
Por fim, Guiga lembrou uma definição do magistral Carlitos que o ajudou a enxergar, a seguir na estrada. "O tempo e o melhor autor: Sempre encontra um final perfeito"....
CENA VI ( Ano 24 )
Seis anos depois da despedida no posto de gasolina, Guiga estava curioso em ver como tinha evoluído a vida dessa mulher inesquecível, no campo profissional e se possível pessoal. Perguntava-se como estaria aos 45 anos essa jovem que deslumbrava pela sua beleza, desde que a conheceu até a despedida, no velho posto de gasolina.
Recriminou-se quando cedeu ao impulso de procurá-la nas redes sociais. Também se recriminou após pedir autorização para ingressar na conta privada da Nelly. "Acho difícil ela autorizar", pensou. Listou possíveis ciúmes do marido, interesse de fechar uma etapa amorosa já superada.
Foram horas onde seu coração bateu mais rápido, como acontecia na sua adolescência na espera de um chamado telefônico das amigas que excediam o marco da amizade. A autorização chegou. Não perdeu um minuto e abriu a conta.
Nelly realizava um destacado trabalho num campo da psicologia dedicado a incentivar jovens para o estudo, após completar pós-grado e doutorado. Sentiu orgulho porque ele tinha batido forte na tecla da máxima educação possível quando estiveram juntos.
Ao abrir as fotos, suas pernas afrouxaram, faltou-lhe ar. Se possível fosse, Nelly estava ainda mais bela, com a segurança da maturidade, na posse e no olhar. Seu corpo era um ímã de sensualidade, com musculatura que denotava diária academia, com cabelos e unhas impecáveis.
Teve vontade de descarregar uma foto dela com um sorriso radiante, num cenário de plantas e flores. Também se mordeu para não descarregar uma foto dela de biquíni na praia, irresistível. Ele com mais de setenta anos sentia nesse instante uma paixão de adolescente.
" Fiquei muito feliz em ver você tão alegre e bela. Você merece. Sei que fui, sou e serei até o meu último suspiro seu maior admirador, mas insisto você merece tudo", escreveu rompendo o gelo de seis anos. Era sincero em cada palavra. Aguardou uma resposta polida, educada. Quase desmaiou de emoção quando chegou a resposta começando por um: "Guiga Amado..."
Ela logo contou que tinha se divorciado...Ele sempre quis pensar que a ferida foi profunda, porem tinha cicatrizado. Mais uma vez errou... Guiga recebeu essa informação como um direto na mandíbula com a guarda baixa.
Nelly escreveu "nunca fui e nem serei tão amada, quanto fui por você!". Agregou, "...estou feliz, meus filhos e minha casinha...estou bem, sem ilusões e sem muita fé....um grande e verdadeiro amor já e suficiente na vida...Já tive meu único e verdadeiro amor, o resto foi ilusão...".
Nelly finalizou seu desabafo: "Você é e sempre será meu único e verdadeiro amor! Não tenha duvidas! Fui muito imatura..não posso dizer que me arrependo de nada, até porque não adianta...se faria diferente? Claro que sim. Mas as coisas foram como foram...".
Depois de um minuto, ele conseguiu escrever "... te amo!", as duas palavras que tantas vezes tinha sussurrado ao ouvido. Ela respondeu "sempre te amarei!". Tudo estava dito.
Guiga caminhou lentamente até o seu bar e serviu-se um whisky. Com lagrimas querendo desbordar seus olhos, brindou por Ela e agradeceu ao destino, a vida, ao amor e a paixão. Lembrou a definição de Chaplin: "O coração não é uma estrada para passeio de muitos. O coração é um lugar onde só fica quem merece".
Cena VII ( Ano 28 )
Guiga, pela primeira vez, sentiu-se que estava velho. Sim, como um bom vinho ou um bom filme, mas velho. Quando voltou a Brasília para dar o adeus a dois amigos na reta fina e com a emoção a flor da pele, enviou para ela uma mensagem. Queria ver ela mais uma vez. Mais nada, ve-la. E viu.
Nelly respondeu na hora a mensagem e marcou para o dia seguinte a hora do encontro. Os minutos pareciam horas para Guiga que a esperou no restaurante do hotel. Ela chegou na hora, radiante. Se abraçaram com carinho, saudade, alegria. Almocaram e Ele teve tempo para ver a mulher adulta e segura que era Nelly. Linda em cada etapa da sua vida. Contaram rapidamente da suas vidas, longe do outro. Logo voltaram um para o outro. A magia estava viva.
"Vamos ao supermercado", ela propus explicando que precisava comprar algumas coisas para o filho, que já estava estudando Direito e para a filha filha adolescente. Percorreram o supermercado no fim da Asa Norte, rindo e lembrando perante cada pratileira de coisas pequenas, de coisas importantes. Ela escolheu um presunto cru espanhol para ele levar para hotel. Sei que voçê adora! , ela disse apertando a mão do Guiga.
"Como gostaria de te cuidar", Ela disse. Tem épocas que sempre que vou deitar, me passa um filme na cabeça dos momentos da minha vida. E os anos com você foram, com certeza, uns dos melhores! Toda intimidade, intensidade, cumplicidade e acolhimento! Aquele dia que fui te conhecer; foi uma mudança não só na vida, mas na alma!, completou. Ele nada respondeu. Apenas olho para o setor de doçes e pegou um chocolate amargo.
Guiga e Nelly se despediram frente ao hotel com outro abraço forte, doçe. Quando o carro de Nelly partiu, Guiga ficou parado olhando as árvores da avenida. Ele sentiu que tudo tinha valido a pena. Essa paixão, esse amor, sua vida. Sabia que a Dama de Preto apareceria em qualquer momento. Mas poderia aparecer quando quiser. Ele partiria feliz!
*** Guillermo Piernes, jornalista, escritor, diplomata
Pintura de Charles Chaplin - Mike O´Brien
[ VOLTAR ]