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Cavalo velho - (Poema de cordel) - Guillermo Piernes

10/08/2023 00:00




Cavalo Velho
De Guillermo Piernes **
O bravo Damião nem percebeu
quando o amor floresceu
no seu apaixonado coração
arrebentando a corda da razão.
Era uma moça calma e legal
que o levava a uma bolha ideal.
Uma bolha de prazer e desejos,
caricias, ternura, sexo e beijos.
Bolha sem mentiras, gritos ou espinhos,
só risos, confissões, brincadeiras, vinhos.
Espaço onde a felicidade decidiu morar,
E o casal com uma única missão, amar.
Keila era o nome da doce amada,
linda, alegre, vaidosa, perfumada,
cabelo sedoso, longo, liso, castanho,
solto só para fazer amor e no banho.
Ele acariciava o cabelo dela, toda hora,
dia, tarde, noite, ao despontar a aurora.
Impossível prever um amor extraordinário,
ela na juventude, ele antigo no calendário.
Adivinhos, bruxas, videntes e cartomantes,
descartaram a união por origens diferentes.
Contaremos detalhes dessas trajetórias,
para resgatar as memoráveis histórias.
Ela teve infância com jogos, porém dura,
o pai violento, mãe de alma pura,
no lugarejo goiano de variadas flores,
mergulhos no rio com a irmã, e dores.
O pai a tocava indecentemente,
covarde abuso da frágil inocente.
Porém, para punir o proceder torto
uma resposta o Destino preparou,
lançada como envenenado dardo,
foi esfaqueado num bar, caiu morto.
Keila tinha oito anos quando tudo ocorreu,
decepção com o pai insensato, sua morte.
A menina sequer uma lagrima derramou,
nesse dia, para sempre, mudava a sorte.
Com afeito, compreensão e calma,
a mãe tirou da menina esse trauma.
Ela passou a esperar um ser bondoso
um homem protetor, amável, carinhoso.
Ao contrário dela, Damião foi premiado
com infância de amor, fartura e agrado.
Teve conforto, educação, bom exemplo
Uma casa acolhedora, quase um templo.
O moço cresceu perto de belos cavalos,
nobres parceiros numa vida sem abalos.
Damião criava cavalos para vaquejadas
no Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte
Pernambuco, com festas e noitadas,
farras com mulheres mal afamadas.
De todos os cavalos, ele preferia Sultão,
quarto de milha, avermelhado, garanhão,
obediente e dócil, com excelente ginete
pegava todo galope, sem precisar chicote.
Por anos andaram por locais diferentes
forjaram entendimento com lealdade,
cavalo e homem, sentiam-se parentes
no percurso existencial com amizade.
O destino testa todos, humano e animal,
Sultão rodou e teve entorse de tornozelo.
quase sacrificado para evitar maior mal
o amo salvou ele e o cuidou com zelo.
Um ano de massagens, remédios, orações,
boa recuperação, mas vetadas competições.
A dupla deixou de viajar, nada de corridas,
rodeios, vaquejadas, noitadas e as farras.
Pela sombra, andavam ao passo
galope curto, paradas, era isso
quase um programa de família
só faltava para ser um chá de tília.
Até a lesão, ganharam competições
tiveram dinheiro, fama e emoções,
Eles nada precisavam provar,
salvo a oportunidade de amar.
Foi ótimo enquanto isso durou,
O efeito do tempo arribou.
O cavalo ficou velho, cansado,
era enxergado como passado.
Para ser treinada pelo grisalho Damião
chegou uma tordilha, chamada Bianca,
com todas as virtudes de uma potranca,
e aí acordou o vulcão chamado Sultão.
Ficou em duas patas, deu corcovos,
no galinheiro entrou, quebrou ovos.
Não adiantou corda, chicote nem patrão
com muita energia, a cerca pulou Sultão.
Os olhos de cavalo velho voltaram a brilhar
quando retornou a Damião, ao seu lar.
"Cavalo velho aproveita a oportunidade,
 tempo escasso antes de virar saudade".
Num caminhão, viajaram até Aparecida,
para pagar promessa feita por Sultão
e pedir a Virgem, encontrar a sua amada,
essa sonhada pelo já veterano, Damião.
Desceram no estacionamento do Santuário,
Sultão estava imponente, escovado a diário,
Damião de camisa nova, seu chapéu favorito,
com ginetes romeiros foram cumprir o rito.
No portão da velha igreja, junto ao seu alazão
viu Keila, primeira vez, sentiu-se num furacão,
vendaval de emoções, admiração, certo tesão
pela jovem com rosto de anjo e corpo de violão.
Damião caminhou decidido até a jovem bela,
se olharam, conversaram, seguiram enfrente.
Entraram na velha igreja, prenderam uma vela
Sentaram perto do altar, num banco da frente.
De joelhos, mãos dadas com respeito, rezaram
em silencio e com fervor elevaram os pedidos
e ouviram: "Agora é com vocês queridos
seus pedidos por amor foram atendidos".


** Guillermo Piernes: Escritor, jornalista, diplomata
* Desenho Caballo viejo - 123RF- 


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