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Começo e Fim - (Poema de cordel) - Guillermo Piernes

23/08/2023 00:00




­Começo, Meio, Fim

de Guillermo Piernes **
O caboclo viveu muito e bem
fez acontecer sem olhar a quem
De criança brincou e observou
Como adulto brilhou e desfrutou.
Evitaremos contar alguns detalhes
Pelas leitoras donzelas e menores.

Com dedicação, zelo e algum suor
Na oficina própria mostrou valor.
Clientes satisfeitos, bom dinheiro
Todos os dias, de janeiro e janeiro.

Para a vida melhor aproveitar
Decidiu de profissão trocar
Torneiro virou cabeleireiro
O curso custou alto dinheiro.
Garantiu o sucesso acontecer
Com o diploma de "coiffeur".

Fixo conseguia pouco ou nada
Escolheu trabalhar na estrada
Na mala, tesoura, pente, escova
Espelho, calça, cueca, camisa,
Em todo lugar Valdo encantava
Com mão leve como a brisa.

Mais viajava mais aprendia
A sua clientela feliz, crescia
Ganhou anéis, peças de arte
Casos e paixões faziam parte.
Era um bom cabra da peste
Percorreu todo o Nordeste
Dançou forro, deu seresta
Fez da vida uma bela festa.

Quando juntou o pé de meia
Trocou salgadinho por ceia
Vestiu blazer ao anoitecer
Decidiu o mundo percorrer.

Jovem sem pudor, compromisso
Ao medo não ligava, era omisso.
Caiu no tango e milonga na Boca
Elegante dançarino saiu da toca.

No México bebeu uma tequila top
Moças pensaram ser um astro pop
Degustou especial ceviche em Lima
Com o Prefeito, amiga e uma prima.

Em Sevilha aprendeu flamenco
Foi convidado a entrar no elenco
Era artista nato porem era sensato
Seguiu Campeão da Tesoura, fato.

Ganhou boa fortuna e fama
Assim avivou a ardente chama
De profissional andarilho cigano
Tratado com amor pelo Destino.

Cortou e penteou estrelas em Cannes,
Várias mulheres formosas das cortes,
Jantou em castelos, belos restaurantes
Onde dizem também arrumou amantes.

Pessoas, prêmios, idiomas, sabores
Penteados, cortes, amigos, amores.
Hotéis, rios, montanhas, bares, vales
Cidades, canções deixaram saudades
Não era mais "caboclinho do bode"
Estava perto de ser um velho conde.

Jovens pouco sabem de saudades
Curtem o hoje e não falam de antes
Saudade era a terna companheira
Sentiu-se gasto, sem eira nem beira.

A sua Paraíba natal retornou
na linda Praia do Poço ficou.
Comprou casa a beira-mar,
Ensolarada, para ser seu lar.
Pôs livros em branco estante
Troféus, fotos, tempo distante.

Rapariga na semana visitava
Até ela zombar do que amava
Valdo ficou sem alternativa
Manteria uma solidão altiva.
Andava na manhã, lia à tarde
Tranquilo e alegre, sem alarde.

Assistia filmes, bebia, pintava
De noite música clássica ouvia
Na praia deserta ele meditava,
Prazeres que a tesoura cortava.
Com amigos em todo o Planeta
Falava, lembrava, ria feito Pateta.

Eram negros, amarelos, brancos,
Cristãos, hindus, judeus, outros.
Homens, mulheres, diferentes
para ele todos iguales, seres.
Gaúcho, tcheca, baiana, italiano
Cearense, chinês, colombiano
japonês, francesa ou argentino
Importava ser um bom humano.
Os amigos eram menos cada dia
Com eles sumia muito da alegria.
Aceitou a inexorável realidade
O fim estava perto, era verdade.
Agradeceu a vida intensa, sorte
A missão era encarar a Morte.
Na sua idade não ia demorar
Fez pedido como devia chegar:
"De tarde me fulmine com um raio
na praia, com trovões, mar bravio"
Perante tão singular pedido
A Morte reagiu e foi atendido.
Ele partiu sem dor, agonia, pranto,
virou cinza, leve, livre, ao vento.


** Guillermo Piernes - Jornalista, diplomata, escritor
*Pintura Lightning on the sea - pintor não identificado



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