Poemas
Poemas
07/12/2023 00:00
Tem alguém aí?
de Guillermo Piernes **
Ou é coisa de ignorantes, ou de muito expertos. Suspeito que é coisa de bandidos conscientes, perante mais provas da passividade da sociedade.
Na próxima visita a um supermercado ou uma farmácia será fácil verificar o que afirmo. As embalagens são muito maiores que o conteúdo em muitos produtos, uma clara intenção de levar ao engano ao consumidor além de contribuir com mihares de toneladas de plástico, papel e lata que aumentam a contaminação de um Planeta que começa a entrar em colapso.
Décadas atrás a tendência começou com as caixas de cereais com simpáticos animais, com uma quantidade de grãos que nunca chegava a dois terços da embalagem externa. Para ser moderninho, fui comprar whey, e deparei com uma linda embalagem de plástico avermelhado. Ao olhar a contraluz vi que o conteúdo do composto de leite e soro não chegava a ocupar nem a metade da embalagem ao preço de um bom champanhe. Saúde!
Para provar que não me apego ao passado descartando assim o argumento que "as coisas eram melhores" , fui comprar como "rapaz moderninho" polivitamínicos na farmácia. Abri a embalagem branca de plástico e as capsulas estavam bem longe da borda. Que desperdiço de plástico em ambos casos. Ou a tentativa de vender gato por... metade do gato.
O desperdiço nas embalagens aumenta com a diminuição do peso de produtos para manter um preço e cortar conteúdo. Em vez de comprar o tradicional panetone de 500 gramas, agora o mais comum tem 400 gramas. Já reclamei anos atrás quando a maioria das embalagens de vinho tinto passou de um litro para 750 cl. Entendo que busque ser valorizado o vinho de alta qualidade, mas a maioria não é. Vamos proteger o meio ambiente e os bêbados!
Nem abordarei o caso do chocolate, com embalagens cada vez menores y com mais baixo percentagem do nobre cacau. Confesso a minha primeira decepção com uma caixa de bombons que ganhei de presente. Imaginei que a caixa estivesse cheia. Somente uma parte com os deliciosos bombons com licor de frutas. O resto, ar.
Refrigerantes não entram nesta crônica porque serem provadamente prejudiciais à saúde. Os viciados em açúcar serão castigados com diabete, pressão alta, e o adeus a uma silhueta esbelta.
Sei que vivemos numa sociedade capitalista, que o jogo sujo forma parte do sistema quando empresários antepõem o lucro por cima de outros valores. Mas me nego a integrar uma sociedade que a toda hora quer me colocar o cartaz de idiota quando procuro produtos para o meu reduzido consumo.
Também eu não me identifico com uma sociedade suicida. Apesar de todos os catastróficos avisos, a sociedade continua contribuindo para tornar horrorosa a vida das próximas gerações, destruindo o Planeta onde se desenvolve, com guerras e desperdiço.
Esperança é pouca de mudar as coisas. A geração que deveria estar nas ruas, nas universidades, nas fábricas, debatendo saídas para a crise, fica na maioria buscando ou criando memes no Tik Tok.
** Guillermo Piernes - Jornalista, escritor
Imagem Dippy - Walt Disney
[ VOLTAR ]