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01/02/2024 00:00
Cimarrão amargo, paz e amor
de Guillermo Piernes **
O presidente argentino decide visitar Israel, no meio de uma guerra. Entrar na briga do Oriente Médio, de graça, acredito que não é a melhor decisão para os sonhos de paz do povo argentino. Para uma colonia americana faz sentido. Que busca o presidente da Casa Rosada em Israel, nestes dias?... Não é vender armas. Argentina nem produz muitas armas, apenas umas poucas sem importância estratégica. Pode ser para copiar o modelo do Muro das Lamentações como forma de alívio da torturada grande parte da população que preside?
O ocupante da Casa Rosada - cujo nome prefiro não repetir para que o meu cimarrão não seja ainda mais amargo - estabeleceu como principal meta e máxima prioridade pagar os credores, nem que essa meta signifique fome e perda dignidade para boa parte da população. O chefe da Casa Rosada advoga a dependência monetária dos Estados Unidos e repete a falácia que o Estado deve ficar fora dos negócios.
Argentina está afundada e de joelhos perante a comunidade financeira internacional porque o desequilíbrio fiscal significa 84% do seu Produto Interno Bruno (PIB). Brasil está com desequilíbrio quase igual (85% do PIB) porem nas últimas décadas teve alguns governos que proporcionaram bastante seriedade ao trato do coisa pública. Assim sobrevive internacionalmente sem humilhações. Na visão presidencial argentina é ótimo manter felizes os credores pagando o que for. Ao final, os que passam fome são alguns milhões de subdesenvolvidos argentinos.
O desequilíbrio fiscal não afeta os impérios. A relação dívida/PIB dos Estados Unidos é de 120%. Sim, parece uma barbaridade. Se fosse um país da periferia teria que dar o ... que pedissem os credores. Mas é Estados Unidos, o maior império e nada disso acontece. Os impérios ditam as regras.
Quando na década dos 70, estavam baixas as reservas americanas de ouro em Fort Knox, o presidente Richard Nixon mudou as regras. Retirou o lastro ouro do dólar e a moeda americana continuou firme internacionalmente. Quando descem as reservas das nações periferias é quase o fim.
E o que diz o presidente do país periférico que já foi a quinta economia do mundo? Nada sobre isso. Um colonizado nunca critica seu amo.
O presidente argentino afirma que não quer a intervenção estatal nos negócios, que são da iniciativa privada. O governo dos Estados Unidos intervem diariamente negando autorização para exportar ou importar metais ou peças que considera estratégicas, decide a quais países as empresas podem comprar ou não petróleo. O governo americano já auxiliou com bilhões a entidades financeiras em problemas. O governo de Washington sabe defender os interesses do seu país.
Este não é um texto de esquerda ou direita. É a minha a reflexão. Eu tive a fortuna de crescer e estudar em Buenos Aires, em colegios e universidades públicas de alta qualidade, que buscam ser desacreditadas pelo atual presidente argentino. Eu tive a sorte de viver intensamente em Washington - a Roma dos tempos modernos - de 1971 a 1974, quando milhares saiam às ruas pedindo o fim da guerra de Vietnam. É uma reflexão nostálgica por dançar e cantar, no meio de muitos homens cabeludos e mulheres sem maquiagem nem soutien, embalados no sonho de "paz e amor". O tempo passou. Hoje está de moda clamar por "guerra e ódio". ...Sorry...so sorry...
** Guillermo Piernes - Jornalista, escritor
* Imagem jovens pela paz - Rebels
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