Poemas
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04/09/2024 00:00
Elite sem projeto
María Rita Caceres **
Difícil avaliar as causas destes ciclos de pequenos e esperançosos avanços seguidos de grandes retrocessos, mas de uma coisa estou me tornando cada dia mais convencida, os menos responsáveis são as camadas mais sofridas da população, pois quando há avanços, elas sempre estão mobilizadas, mas há sempre um limite do qual se parece não conseguir passar.
A elite brasileira nunca teve um projeto nacional, mesmo que fosse conservador, sempre teve os olhos voltados para o exterior e pasmem, ao contrário de outras elites, sempre tiveram pavor de que o povo tivesse acesso a conhecimentos, ainda que fossem de caráter mais tecnológico. Até o ensino técnico neste país sempre foi mais treinamento para realização de tarefas padronizadas do que domínio de fundamentos para desenvolvimento de tecnologias.
Antes de chegar às instituições de Estado, ameaçando atingir os mais altos cargos da República, as milícias e o crime organizado controlaram territorial, social e politicamente as periferias, eram o poder nessas áreas, seja por conivência ou por impotência de governos para romperem certos limites perfeitamente compatíveis com o sistema capitalista, mas incompativeis com os interesses de uma classe senhorial que se enxerga não como classe nacional autônoma e sim como sócia menor do grande capital externo.
A dependencia é o projeto econômico e político da grande maioria da elite nacional. Onde houve um mínimo de avanços, a população não se rendeu porque via alguma perspectiva de futuro. Ao contrário, há áreas onde verdadeiros milagres de organização e conscientização ocorreram. Sair do espaço da sociedade para o espaço do Estado ficou parecendo um processo cada vez mais fácil para este poder paralelo até entaoclandestino, quando a lógica do Estado mínimo e do desmonte de políticas sociais e de direitos trabalhistas ganhou força como política do Estado neoliberal. Ainda bem que ainda nos resta alguma capacidade de resistencia, mas é preciso demonstrar que há vontade política de enfrentar este cerco.
O problema é que os espaços de debate são configurados de tal forma que a discussão de propostas concretas é inviabilizada pelo falso discurso antissistêmico. Temos que ser civilizados e competentes, mas tudo que não podemos dar agora é aula de bom mocismo e sim de coragem para enfrentar essas atrocidades. Apoio incondicional à luta travada pelo STF na defesa de nossa soberania, do ponto de vista jurídico e do ponto de vista político e econômico, envolvimento máximo no processo eleitoral.
** María Rita Caceres - Educadora
* Cortesanos - Pintura de Jacopo Amigoni
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