Clinton, Lula, Bush, Fernando Henrique, Nixon, Menem, Barão do Rio Branco, um bom número de diplomatas brilhantes, assim como mandatários tenebrosos ou delirantes, desfilam no livro Política Externa e Jornalismo de Maria Helena Tachinardi, uma impecável síntese dos processos das últimas décadas que aproximaram governos e países em prol de um desenvolvimento pacífico ou os afastaram para a guerra.

A consagrada jornalista Maria Helena Tachinardi fascina com a sua habilidade para conectar os argumentos de negociação, as razões politico-econômico-culturais de ontem como válidos para acompanhar os acontecimentos destes dias. Como num jogo de Ioio, velhos ressentimentos, desconfianças, interesses de outrora sobem e descem de valor durante os caminhos ou descaminhos das relações internacionais, até hoje.

A obra desse ícone do jornalismo brasileiro na cobertura de relações internacionais entrega uma avalancha de informação, com texto objetivo e fluído, com citas importantes ou cruciais de líderes nacionais, regionais e mundiais, que ajudam a entender em toda a sua dimensão os avances e retrocessos no bilateralismo e multilateralismo.

O livro de 511 páginas da editora Contexto deve ser degustado como um puro malte de 18 anos ou um grande vinho reserva, para absorver tanta informação de qualidade sobre pontos chaves desde a década de 1980 até hoje. Nos oitenta foram processos de pressão americana para acabar com reservas de mercado sem abrir mão de suas regras protecionistas, intrigadas sobre acordo nuclear brasileiro com Alemanha, o começo da relação comercial com China.

"Não aceitamos hegemonias nem práticas ostensivas ou veladas de dominação", afirmou o presidente Sarney durante uma visita a África, em outubro de 1986. Um pronunciamento feito há 40 anos, reproduzido para relatar a aproximação brasileira com África, na decada de oitenta. É obsoleto?

A autora, de sólida formação acadêmica nacional e internacional e uma experiencia de 23 anos no histórico jornal Gazeta Mercantil com longo tempo como correspondente em Washington, proporciona organizada e excelente informação de processos da década de 1990. Assim desfilam as negociações que levaram ao Mercosul, o conflito entre Peru e Equador, o entendimento/desentendimento com a União Europeia.

Tachinardi, que foi editora da revista Interesse Nacional de 2009 a 2020, despeja dados, números, datas, pensamentos imprescindíveis para entender o que mudou desde o atentado as torres gêmeas do WTC de Nova Iorque - em 11 de setembro de 2001 - até a atualidade, quando nos aproximamos a um conflito global de dimensões apocalípticas.

"Historiadores e estudiosos de relações internacionais passam agora a ter acesso a um material de qualidade, revelador de nuances do posicionamento brasileiro no plano mundial", definiu com propriedade o embaixador Fernando de Mello Barreto na apresentação do livro, uma obra que guardarei no estante mais nobre da minha biblioteca.