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11/11/2024 00:00
O Patriota
Silvia Caetano **
São memórias desde sua infância até o dia 16 de fevereiro passado, quando apareceu morto, aos 47 anos, na prisão IK-3, Sibéria, uma das mais rigorosas e inacessíveis da Rússia e com temperaturas que chegam a -40o. As colônias penais russas são descendentes dos antigos gulags da era soviética, os famosos campos de trabalhos forçados de Stalin onde são trancafiados os piores criminosos e opositores do regime, para lá serem esquecidos.
Corajosamente escrito, Patriota é a última mensagem de Navalny ao mundo, onde descreve como funciona o regime ditatorial de Putin. Ele começou a escrevê-lo em 2020, na Alemanha, onde foi salvo do envenenamento ordenado pelo déspota no hospital Charitè, Berlim. Foi injetado com a substância tóxica Novichok,- desenvolvida pela União Soviética na década de 1970 -, e identificada por amostras do seu sangue em um laboratório militar alemão. No hospital foi visitado por Ângela Merkel.
Alexei Navalny foi um nacionalista que amava seu país e lutou durante a maior parte da sua vida para livrá-lo do autoritarismo de Wladimir Putin. Ele não queria ocidentalizar a Rússia e nunca fez nenhum movimento nesse sentido, mas apenas democratizá-la. Seu estilo é corajoso, vigoroso, e autoirônico, o que era uma das suas características.
Com humor narra cenas hilariantes acontecidas durante algumas das suas inúmeras detenções e encarceramentos, como o amadorismo e desnorteamento dos numerosos guardas que o prenderam logo desembarcou vindo da Alemanha e que não sabiam com proceder. Mas narra também detalhadamente as perseguições que sofreram ele e sua equipe e as torturas às quais foi submetido.
Quem quiser conhecer as tenebrosas entranhas do regime autocrático de Putin não pode deixar de ler Patriota, onde são reveladas as suas crueldades e estratégias para continuar no poder, onde está desde 1999. Nalvany revela como funciona o esquema de corrupção de Putin para assegurar a fidelidade dos que o cercam e como se livra impiedosamente dos seus críticos e opositores, como ocorreu com ele.
Ele descerrou o véu com o qual muitos dos que dizem democratas tentam camuflar o verdadeiro Putin, revelando o que ocorreu durante os seus anos de governo, quando críticos do Kremlin morreram em circunstâncias suspeitas, disfarçadas em acidentes aéreos, quedas de edifícios e envenenamentos.
A leitura do livro Patriota é especialmente aconselhável aos idealizadores ocidentais de Putin. Talvez, depois disso, quem sabe, sentirão algum constrangimento em defendê-lo, como alguns ocupantes do Palácio do Planalto.
** Silvia Caeteno e jornalista brasileira que reside em Portugal
* Capa do livro - Porto Editora
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