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15/12/2024 00:00
O "jornalismo" das mídias sociais
Carlos Marchi **
As mídias sociais inventaram um "novo" jornalismo - o jornalismo sem técnica, sem ética e sem texto.
O jornalismo é uma profissão que parece simples e descomplicada. A pessoa de fora olha e diz: "Eu também faço." Não faz. O jornalismo é um emaranhado. Primeiro, a técnica - desenhar uma notícia a partir dos fatos coletados.
Segundo, construir o conteúdo incluindo todas as informações necessárias à correta e cabal compreensão da notícia. E construir o conteúdo sem ferir a ética, sem expor indevidamente os personagens e sem arranhar a lei.
Por fim, compor um texto agradável de ler, quase literatura, cumprindo as regras da prosódia e da gramática.
O "jornalismo" das mídias sociais não tem nada desse jornalismo ético-técnico - é uma mera porcaria grosseira. Chegam ao limite de esconder o lead: "Cantor famoso agride a mulher" - diz o título. Ou: "Flamengo perde importante jogador de meio-campo para o maior rival." É o anti-lead. Para saber quem é, o leitor terá de clicara na "notícia", a única coisa que interessa ao autor da "notícia". Ao clicar, verá que o cabra não é cantor, não é famoso e não agrediu a mulher. Ou que o jogador é um sub-20.
Este é o mundo que as mídias sociais, prenhe de "jornalistas" de araque, construíram. E caberá a nós, nos próximos decênios, consertar essa lambança.
** Carlos Marchi é escritor e jornalista
* Imagem - Premio Pulitzer
(O texto foi publicado inicialmente no FB do autor. Republicado aqui por considerarmos um excelente análise, preciso e oportuno de um jornalista de brilhante trajetória)
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