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20/12/2024 00:00
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A alienação da Humanidade
Silvia Caetano **
Há muito que o mundo e o Brasil sofrem com a violência da trajetória climática. Embora nenhum país seja imune às mudanças climáticas, os mais atingidos, - numa lista de 10 elaborada pela GAIN-Norte Dame Global Adaptation Initiative- são de baixa renda, 9 deles no Continente Africano.
Sofremos secas na Amazônia e no Centro Oeste, incêndios no Pantanal, inundações catastróficas no Sul, ondas de calor, desmoronamentos e enchentes nas periferias das cidades. São milhares os desabrigados aumentando o contingente de refugiados do clima. A recente devastação causada pelas chuvas em Santa Catarina alerta, mais uma vez, lideranças políticas e governantes para providências capazes de conter esses desastres, o que é possível.
Os impactos climáticos são cada vez mais intensos e frequentes devido aos aumentos voláteis de energia na atmosfera. Mas outras são as preocupações do Congresso, onde uma maioria parlamentar permanece chantageando o governo para aprovação de emendas do seu interesse. É um vergonhoso toma lá dá cá. Ou o governo cede, ou não se votam projetos do interesse nacional, como é o caso do Pacote Fiscal.
A ONU e a Organização da Comida e Agricultura ? FAO - relataram que as anomalias do tempo relacionadas às mudanças climáticas têm custado bilhões de dólares anualmente e vêm crescendo exponencialmente. Por enquanto, são danos calculados em moeda, mas logo surgirão as implicações nutricionais, ou seja, a comida pode rarear e não ser suficiente para alimentar populações em todo o mundo.
Nem os Oceanos, de onde retiramos parte da nossa alimentação, escaparam das influências negativas do clima. Nos últimos 34 anos, metade dos corais e recifes em todo o mundo morreram devido aos aumentos da temperatura da água e acidificação causada pela alta concentração de CO2 nos mares. A acidificação degrada a base da cadeia alimentar marinha, reduzindo em 50% a capacidade reprodutiva dos peixes no Planeta. A taxa do aumento do nível dos mares indica que mais catástrofes se aproximam, representando risco para bilhões de habitantes das zonas costeiras.
É consenso entre os cientistas que estudam a trajetória climática que precisamos estar 2 graus abaixo das temperaturas que representam o aquecimento global. Será que vamos conseguir? Pouco provável. Ninguém quer pagar essa conta. Não se percebe na maioria dos países, onde se inclui o Brasil, esforços realísticos nessa direção. Lideranças de todo o mundo reúnem-se em congressos internacionais para deliberar sobre o assunto, mas as verbas que disponibilizam para evitar esses desastres são sempre inferiores ao necessário.
Agrava nossa preocupação o fato de Donald Trump, que assumirá a presidência dos Estados Unidos, desdenhar o problema negando sua existência. Trump estaria preparando-se para sair do Acordo de Paris. Ele já tentou no seu primeiro mandato, mas enfrentou reação negativa em todo mundo. Os governadores da Califórnia, Nova Iorque, Washington fundaram a Aliança Climática dos Estados Unidos-USCA-com a finalidade de manter os esforços para a redução de poluentes.
É óbvio que não sabemos ao certo como será o futuro, mas podemos enxergar as tendências. Infelizmente, as recentes inovações, investimentos e patentes indicam que a alienação da humanidade está crescendo e sendo canalizada para o consumismo e engenharias financeiras. Evidências anteriores a nós sugerem que iremos sofrer incontroláveis e perigosos níveis de alteração climática, que trará fome, destruição, imigrações, doenças e guerras, como acontece atualmente. O tempo não está do nosso lado, já alertou o Secretário-geral da ONU, o português António Guterres.
** Silvia Caetano - Jornalista brasileira que reside em Portugal
* Foto Urso em gelo Ártico derretendo - Pngtree
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