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O magistral Loco Gatti - (Crónica) - Guillermo Piernes

13/03/2025 00:00




­O magistral "Loco Gatti"

Por Guillermo Piernes **

Todo dia agradeço pelos privilégios que tive na vida. Um deles foi ter meu sonho de ser goleiro do meu clube do coração, Atlanta, estraçalhado por um dos maiores na posição de todos os tempos, e precursor do modelo que seguem os melhores goleiros da atualidade.

Foi Hugo Orlando Gatti, conhecido como "El Loco" Gatti, lenda do futebol argentino, goleiro de Atlanta, River, Gimnasia y Boca, da seleção argentina e recordista com 817 jogos.

Gatti iniciou sua carreira no Atlanta 1962, onde jogou até 1964. Nano Gandulla, o técnico dos times de base me disse que eu era muito bom, mas com esse fenômeno não teria chance. Fui jogar de nove, artilheiro, e pouco depois abandonei a ideia de ser jogador profissional. Me dediquei a estudar e tentar outro sonho, ser jornalista internacional. Mas Gatti é o que importa. Vamos lá.

Foi um revolucionário na forma de atuar dos goleiros. Ele se considerava um zagueiro que podia usar as mãos na área. Sabia driblar, cabecear y de seus pés partiam a maioria dos contra-ataques dos grandes times onde atuou. Em boa parte dos treinos ele jogava de atacante. Era uma festa participar desses treinos. No jogos, era um "líbero" muito próximo a linha de zagueiros. Era o mesmo nos treinos, nos jogos normais e nos clássicos. Seguro, tranquilo que seu instinto e agilidade resolveriam. 

Seus reflexos eram ótimos, mas sabia como poucos sair a cortar o ângulo de remate do adversário. Quando saia a fechar o ángulo não recuava. Grande parte do jogo o encontrava fora da área. Levou vários gols de muito longe mas defendeu centenas de bolas que encontrariam a rede com um goleiro comum.

Fui a Bombonera quando ele estreou ante Boca, com 16 anos, por lesão do arqueiro titular. Ele nada mudou do que fazia nos treinos, até saiu driblando um centroavante xeneize. Ficou com a posição. O técnico Osvaldo Zubeldia, então em Atlanta, fazia questão de bater ele próprio as bolas para aquecer esse goleiro no campo, antes de cada jogo.  

Uma tarde no campo de Atlanta, jogaram Racing e os locais. Um meiocampista habilidoso uruguaio do Racing, chamado Rubén Sosa, viu Gatti fora da área e tentou o gol da linha do meio campo. Gatti correu para atrás acompanhando a trajetória e ao ver que a bola ia ficar nas suas costas fez um mortal de costas, rodou duas vezes e se levantou com a bola entre as mãos, perto da linha do gol. Todo o estádio explodiu em aplausos. Sosa correu a abraça-lo.

Com seu talento, Atlanta não conseguiu segura-lo. Foi vendido a River Plate, donde jogou de 1964 a 1968. Depois passou a defender Gimnasia y Esgrima de La Plata de 1969 a 1974 e Unión de Santa Fe de 1974 a 1975.

Com 30 anos, Gatti foi a Boca, e encontrou a gloria máxima que podia imaginar. Con Boca, Gatti conquistou três títulos argentinos, duas copas Libertadores (1977 e 1978) e uma Copa Intercontinental, em 1977. Bateu a marca de 26 tiros penais defendidos. Foi o goleiro do time de uma das maiores torcidas do mundo durante 12 anos até se retirar em 1988. Foi goleiro da seleção argentina em varias ocasiões, e suplente de Antonio Roma no mundial de 1966. No mundial de 1978, foi preterido na convocação final e o goleiro foi Ubaldo Fillol.

De constante humor irreverente, inclusive depois de sofrer os frangos inevitáveis na carreira. Na sua aposentadoria de jogador comentou futebol na Argentina e na Espanha, onde seu filho Lucas foi jogador profissional no time C.D. Badajoz.

Esta semana fiquei muito triste ao saber que Gatti está grave num hospital de Buenos Aires..."Vai querido loco Gatti, por favor vai e defende mais essa".

** Guillermo Piernes, foi jornalista, diplomata e nunca chegou a ser goleiro profissional 
* Caricatura de Hugo Gatti - Autor Santiago Landaburo 


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