Poemas
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23/11/2025 00:00

Missão dada...missão cumprida!
Guillermo Piernes
Em 1971 a agencia Latin-Reuters me enviou a Nova Iorque para fazer cobertura jornalística das Nações Unidas. Foram meses de uma experiencia valiosa que muito ajudou na minha trajetória como correspondente internacional e incursão na diplomacia. Isso aqui não importa.
No recesso do programa das principais reuniões da ONU, fiz uma exaustiva pesquisa ao vivo da indústria pornográfica que resultou em sólidas matérias que me proporcionaram mais leitores que meus escritos sobre fatos das relações internacionais.
Em 2025, a indústria pornográfica formal estimasse movimenta em volta de 15 bilhões de dólares por ano (valor sete vezes maior que as exportações brasileiras de soja). Uma das principais atrizes acumulou um patrimônio de uns US$ 16 milhões. Como no futebol, um astro ganha muito e a maioria pouco. Hoje a pornografia, com a internet e os celulares, chegou a quase todos dos lares.
Sem internet, sem celular, voltemos as ruas de Nova Iorque, que meio século atrás era o coração da indústria da pornografia, com o então jovem correspondente mergulhado no tema.
Foram dias e noites de pesquisa in-loco. Cinemas, teatros, shows, livrarias especializadas. Visitas a locais com senhoritas, como quando chegaram ao mundo, dançando em boxes de vidro. Em volta deles, espectadores que colocavam constantemente moedas para evitar que se fechassem automaticamente as cortinas em caso de poucas moedas.
Tardes e noites em shows, ao vivo e em direto, de potência, acrobacia e destreza, com dois, três ou quatro artistas profissionais. Algumas visitas em horarios diurnos a livrarias especializadas, com obras clássicas do erotismo a revistas com fotos que poderiam auxiliar a todo estudante interessado em melhorar seus noções de anatomia.
Foram várias entrevistas com empresários, atores, atrizes, dançarinas, garçonetes e garçons para proporcionar a melhor informação aos leitores dos jornais e revistas de toda América Latina, clientes do serviço regional da maior agencia noticiosa do mundo.
A segurança na área onde se encontrava a maioria dos estabelecimentos da indústria pornográfica era forte e raríssimos os casos de furto ou assalto. Os empresários eram competentes em proteger a clientela e nos estabelecimentos. Não era permitida a prostituição, porque uma coisa era uma coisa e outra coisa era outra coisa. Também era proibido o acesso de menores de idade. A compra de bebidas somente a maiores de 21 anos. .
As minhas reportagens sobre a industria pornografica - que nesse tempo engatinhava na América Latina - foram reproduzidas amplamente, o que me gratificou como profissional da informação. Assim confirmei mais uma vez que para escrever uma boa matéria nada melhor que mergulhar no assunto e ouvir todas as fontes possíveis, esquecendo o "...eu acho que é assim..."
No mundo da comunicação, o sucesso ou fracasso duram muito pouco e minha gloria acabou horas depois da publicação. Mas precisava ser reembolsado pelas despesas necessárias para realizar a série de reportagens.
Falei com o funcionário da administração para iniciar o processo de ressarcimento. Apresentei recibos de taxi, de ingressos a cinemas, teatros e shows, petiscos e drinques consumidos nos locais, e despesa menores como as moedas nas cabines onde trabalhavam as senhoritas sem roupas. Lembro era uma quantia em volta de 200 dólares.
O funcionário acostumado a fazer pagamentos de situações heterodoxas dos correspondentes (alugar um bote, uma aula de paraquedas, compra de colete antibalas e outros) me disse que não podia pagar esse tipo de despesas, que essas despesas poderiam ser objetadas pela auditoria. Respondi que voltaria com o assunto.
Juntei recortes dos artigos de alguns jornais latino-americanos que tinham publicado as matérias (por sorte na época, periódicos de vários países da região eram vendidos em quiosques cêntricos novaiorquinos). Voltei ao funcionário administrativo com os recortes e os recibos. Era um assunto profissional, de credibilidade. Fui ressarcido.
Se o jornalista curtiu ou não é irrelevante. Se gosta disto ou do outro. Se é a favor o contra. Nada disso importa. O importante é a informação de qualidade. Missão dada, missão cumprida.
* Guillermo Piernes: jornalista, diplomata, escritor
Skyline Manhattan Hudson River - pintura de Mike Rabe
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